28 de jun. de 2012
27 de jun. de 2012
A síntese, num cartoon em palavras
Rio+20 = zero
por Guilherme Fiuza
Às
vésperas da conferência Rio-92, 20 anos atrás, o secretário-geral da Cúpula da
Terra, Maurice Strong, sentenciou: “Esta é a nossa última chance de salvar o
planeta.” Agora, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, avisa que a Rio + 20 é
a “única oportunidade” de garantir um futuro sustentável. Do jeito que as
coisas vão, a Rio+ 40 será a última oportunidade de salvar o mundo dos
ecoburocratas, que estão cada vez mais contagiosos e letais.
Os
negociadores dos mais de 130 países representados na conferência estão
preocupados. Vários deles já disseram que a grande questão a ser decidida na
Rio + 20 é quem vai financiar o desenvolvimento sustentável, com quanto
dinheiro. E que não há acordo à vista sobre isso. Talvez seja necessário
responder a outra questão antes dessa: quem vai nos salvar dessas festas
ecológicas milionárias que não decidem nada? Quem vai dar um basta nesses
banquetes insustentáveis que discutem sustentabilidade?
Ninguém
segura a patrulha da bondade e seu alegre circo do apocalipse. No picadeiro da
salvação sempre cabe mais um. É aquela oportunidade valiosa para os ativistas
de si mesmos descolarem mais um flash por um mundo melhor. O oportunismo é
verde. Cientistas políticos gritam que o tempo está se esgotando, artistas
buscam sofregamente algum bordão conceitual, mesmo que se atrapalhem um
pouquinho – como na célebre frase de uma cantora de MPB em momento ético: “O
problema do Brasil é a falta de impunidade”.
Enquanto
a feira de lugares-comuns e o show de auto-ajuda planetária evoluem na avenida,
o mundo piora. A crise nascida na Europa veio mostrar que a farra estatal é
boa, mas um dia a conta chega. Com a licença dos ecologistas: pode ser a última
chance de se descobrir que não é o Estado que sustenta a sociedade, mas o
contrário. E que não existe Estado forte com sociedade fraca. Pois é nesse
momento de alerta contra os governos perdulários que se monta o colossal almoço
grátis da Rio + 20. Um banquete para discutir o desperdício. Haja
sustentabilidade.
O
que quer a faminta burocracia verde, com seus sábios fashion de bolinha
vermelha na testa e seus relatórios sobre o fim do mundo? Quer a Bolsa
Ecologia. Quer mais dinheiro do contribuinte para mais relatórios, mais
comissões, mais mesadas para ONGs, mais conferências coloridas e animadas.
Enquanto isso, a vida real vai muito bem, obrigado, para monstros como a usina
hidrelétrica de Belo Monte – uma estupidez ecológica, uma aberração econômica e
um monumento ao desperdício estatal. O custo cada vez mais insustentável da
energia nuclear também não é problema para os abastados anfitriões da Rio + 20,
como indica a construção de Angra 3 – cujo lixo radioativo tem garantia até a
Rio + 2020. Passaporte para o futuro é isso aí.
Duas
décadas de sustentabilidade conceitual não chatearam os vilões reais. Na Rio-92
foram assinadas as Convenções de Biodiversidade e do Clima. A primeira
instituiu o direito das populações tradicionais sobre o patrimônio genético de
suas terras. Enquanto a biotecnologia progride, os povos da maior floresta
tropical da Terra continuam a ver navios no Rio Amazonas. Os royalties que
conhecem de fato são os do contrabando de madeira – porque infelizmente não
podem se alimentar de convenções. Já a Convenção do Clima gerou o que se sabe:
uma sucessão de protocolos sobre redução das emissões de gás carbônico. Cada um
é mais severo que o anterior, devidamente descumprido. Com novos prazos de
carência, as metas vão ficando mais ambiciosas, numa espécie de pacto com o
nunca.
E
aí está a patrulha da bondade em mais uma conferência planetária, reunindo os
melhores especialistas internacionais em sustentabilidade e sexo dos anjos.
Eles vão dizer que o mundo vai acabar e a culpa é sua. Vão mandar você deixar
seu carro na garagem e tomar banho rápido. Não vão falar em controle
populacional, porque isso é de direita. Eles são progressistas, sociais, amam
cada um dos 7 bilhões de habitantes da Terra, que serão 10 bilhões até o fim
deste século, todos muito bem-vindos.
O
problema, claro, é do capitalismo individualista, cheio de egoístas que demoram
no banho. Serão precisos muitos banquetes ecológicos para mudar essa mentalidade.
23 de jun. de 2012
O advogado mais caro do Brasil e um bandido barato ameaçam o Estado de Direito
por Augusto Nunes
Carlinhos
Cachoeira começou a captura do Poder Executivo com a compra de governadores.
Prosseguiu a ofensiva com a contratação de Márcio Thomaz Bastos, um advogado
disposto a tudo para livrar de castigos o chefe da quadrilha desbaratada pela
Polícia Federal que vivia elogiando nos tempos de ministro da Justiça do
governo Lula. E completou o serviço quando o Planalto ordenou à maioria
governista que transformasse a CPI batizada com o apelido do delinquente goiano
em mais um monumento à impunidade.
Carlinhos
Cachoeira começou a captura do Poder Legislativo com o arrendamento de
parlamentares, entre os quais o senador Demóstenes Torres ─ hoje reduzido a uma caricatura carnavalesca do
personagem de ficção que funde Dr. Jekyll e Mr. Hyde. A ofensiva prosseguiu na
CPI, com a debochada performance produzida e dirigida pelo doutor em truques de
tribunal. E será consumada com o naufrágio anunciado de uma comissão de
inquérito administrada por cúmplices dos investigados.
Carlinhos
Cachoeira começou a captura do Poder Judiciário com o aluguel de
comparsas disfarçados de juízes. A ofensiva prosseguiu com a mobilização
de desembargadores decididos a condenar os xerifes, libertar os bandidos e
enterrar no mausoléu dos absurdos jurídicos o colosso de provas colhidas pelos
detetives. As ameaças de morte que afastaram do caso o juiz federal Paulo
Augusto Moreira Lima, responsável pela prisão do comandante da quadrilha e seus
generais, informam que Cachoeira está pronto para completar a desmoralização da
Justiça.
“Não
é o juiz quem tem de se afastar em nome de sua segurança, mas o Estado que
precisa lhe garantir a vida, prender os autores das ameaças e assegurar
condições para o desbaratamento dessa máfia”, adverte a jornalista Dora Kramer
no artigo reproduzido na seção Feira Livre. “Qualquer coisa diferente disso equivale a
transferir aos bandidos um poder de decisão que não lhes pertence e pôr de
antemão o juiz (ou juíza) substituto sob suspeita ou risco de morte”.
A
operação concebida por Cachoeira (e aperfeiçoada por um ex-ministro da Justiça)
para a captura dos três Poderes tem de ser neutralizada já. Ou as instituições
cumprem seu dever sem delongas ou formalizam publicamente a rendição
vergonhosa. Nada justifica a libertação prematura dos quadrilheiros. Não se
pode conceder o direito de ir e vir a quem pretende usá-lo para obstruir
investigações, destruir provas, silenciar testemunhas, submeter desembargadores
e intimidar magistrados.
Os
integrantes da organização criminosa têm de aguardar engaiolados a
merecidíssima condenação a longas temporadas na cadeia. Se ocorrer o contrário,
como constata o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o Estado
Democrático de Direito terá sido algemado pela parceria que juntou o advogado
mais caro do Brasil e um bandido barato, mas com dinheiro de sobra para pagar o
que for preciso para continuar em
ação. Os R $ 15 milhões que estimulam a inventividade de
Márcio Thomaz Bastos, por exemplo. Ou propinas que amansam figurões do
Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
21 de jun. de 2012
Que dá o que pensar, dá
GÊMEOS CÉTICO E LÚCIDO.
No
ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês. O primeiro pergunta ao outro:
- Você acredita na vida após o nascimento?
- Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.
- Bobagem, não há vida após o nascimento. Como verdadeiramente seria essa vida?
- Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca.
- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento está excluída - o cordão umbilical é muito curto.
- Na verdade, certamente há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.
- Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento. O parto apenas encerra a vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.
- Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.
- Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde ela supostamente está?
- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria!
- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma.
- Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sente como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que estamos aqui só de passagem... há uma vida real que nos espera e agora apenas estamos aqui nos preparando para ela...
- Você acredita na vida após o nascimento?
- Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.
- Bobagem, não há vida após o nascimento. Como verdadeiramente seria essa vida?
- Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca.
- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento está excluída - o cordão umbilical é muito curto.
- Na verdade, certamente há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.
- Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento. O parto apenas encerra a vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.
- Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.
- Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde ela supostamente está?
- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria!
- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma.
- Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sente como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que estamos aqui só de passagem... há uma vida real que nos espera e agora apenas estamos aqui nos preparando para ela...
20 de jun. de 2012
O Livro Negro do comunismo
Artigo
de Roberto Campos
para a Folha de S. Paulo e O Globo, 19/04/98
para a Folha de S. Paulo e O Globo, 19/04/98
"Le livre noir du communisme" (Edições Robert Laffont, Paris, 1997), escrito por seis historiadores europeus, com acesso a arquivos soviéticos recém-abertos, é uma espécie de enciclopédia da violência do comunismo. O chamado "socialismo real" foi uma tragédia de dimensões planetárias, superior em abrangência e intensidade ao seu êmulo totalitário do entreguerras - o nazifascismo.
Ao contrário da repressão episódica e acidental das ditaduras latino-americanas, a violência comunista se tornou um instrumento político-ideológico, fazendo parte da rotina de governo. Essa sistematização do terror não é rara na história humana, tendo repontado na Revolução Francesa do século 18 na fase violenta do jacobinismo, na "industrialização do extermínio judaico" pelos nazistas, e - confesso-o com pudor - na inquisição da Igreja Católica, que durante séculos queimava os corpos para purificar as almas.
O "Livre noir" me veio às mãos num momento oportuno em que, reaberto na mídia e no Congresso o debate sobre a violência de nossos "anos de chumbo" nas décadas de 60 e 70, me pusera a reler o "Brasil Nunca Mais", editado em 1985 pela Arquidiocese de São Paulo.
Comparados os dois, verifica-se que o Brasil não ultrapassou o abecedário da violência, palco que foi de um miniconflito da Guerra Fria, enquanto que o "Livre noir" é um tratado ecumênico sobre as depravações ínsitas do comunismo, este sem dúvida o experimento mais sangrento de toda a história humana.
Produziu quase 100 milhões de vítimas, em vários continentes, raças e culturas, indicando que a violência comunista não foi mera aberração da psique eslava, mas, sim, algo diabolicamente inerente à engenharia social marxista, que, querendo reformar o homem pela força, transforma os dissidentes primeiro em inimigos e, depois, em vítimas.
A aritmética macabra do comunismo assim se classifica por ordem de grandeza: China (65 milhões de mortos); União Soviética (20 milhões); Coréia do Norte (2 milhões); Camboja (2 milhões); África (1,7 milhão, distribuído entre Etiópia, Angola e Moçambique); Afeganistão (1,5 milhão); Vietnã (1 milhão); Leste Europeu (1 milhão); América Latina (150 mil entre Cuba, Nicarágua e Peru); movimento comunista internacional e partidos comunistas no poder (10 mil).
O comunismo fabricou três dos maiores carniceiros da espécie humana - Lênin, Stálin e Mao Tse-tung. Lênin foi o iniciador do terror soviético. Enquanto os czares russos em quase um século (
Alguns líderes do Terceiro Mundo figuram com distinção nessa galeria de assassinos. Em termos de percentagem da população, o campeão absoluto foi Pol Pot, que exterminou em 3,5 anos um quarto da população do Camboja.
Fidel Castro, por sua vez, é o campeão absoluto da "exclusão social", pois 2,2 milhões de pessoas, equivalentes a 20% da população da ilha, tiveram de fugir. Juntamente com o Vietnã, Fidel criou uma nova espécie de refugiado, o "boat people" - ou seja, os "balseros", milhares dos quais naufragaram, engordando os tubarões do Caribe.
A vasta maioria dos países comunistas é culpada dos três crimes definidos no artigo 6º do Estatuto de Nuremberg: crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
A discussão brasileira sobre os nossos "anos de chumbo" raramente situa as coisas no contexto internacional da Guerra Fria, a qual alcançou seu apogeu nos anos 60 e 70, provocando um "refluxo autoritário" no Terceiro Mundo. Houve intervenções militares no Brasil e na Bolívia em 1964, na Argentina em 1966, no Peru em 1968, no Equador em 1972, e no Uruguai em 1973.
Fenômeno idêntico ocorreu em outros continentes. Os militares coreanos subiram ao governo em 1961 e adquiriram poderes ditatoriais em 1973. Houve golpes militares na Indonésia em 1965, na Grécia em 1967 e, nesse mesmo ano, o presidente Marcos impunha a lei marcial nas Filipinas, e Indira Gandhi declarava um "regime de emergência". Em Taiwan e Cingapura houve autoritarismo civil sob um partido dominante.
O grande mérito dos regimes democráticos é preservar os direitos humanos, estigmatizando qualquer iniciativa de violá-los. Mas por lamentáveis que sejam as violências e torturas denunciadas no "Brasil, Nunca Mais", elas empalidecem perto das brutalidades do comunismo cubano, minudenciadas no "Livre noir".
Comparados ao carniceiro profissional do Caribe, os militares brasileiros parecem escoteiros destreinados apartando um conflito de subúrbio... Enquanto Fidel fuzilou entre 15 mil e 17 mil pessoas (sendo 10 mil só na década de 60), o número de mortos e desaparecidos no Brasil, entre 1964 e
Em 1978, quando
Não houve prisões brasileiras comparáveis a
Este, como procurador-geral, foi comandante da prisão
A repressão comunista tem características particularmente selvagens. A responsabilidade é "coletiva", atingindo não apenas as pessoas, mas as famílias. É habitual o recurso a trabalhos forçados, em campos de concentração. Não há separação carcerária, ou mesmo judicial, entre criminosos comuns e políticos. Em Cuba, criou-se um instituto original, o da "periculosidade pré-delitual", podendo a pessoa ser presa por mera suspeita das autoridades, independentemente de fatos ou ações.
Causa-me infinda perplexidade, na mídia internacional e em nosso discurso político local, a "angelização" de Fidel e Guevara e a "satanização" de Pinochet. Isso só pode resultar de ignorância factual ou de safadeza ideológica.
Pinochet foi ditador por 17 anos; Fidel está no poder há 39 anos. Pinochet promoveu a abertura econômica e iniciou a redemocratização do país, retirando-se após derrotado em plebiscito e em eleições democráticas como senador vitalício (solução que, se imitada em Cuba, facilitaria o fim do embargo).
Fidel considera uma obscenidade a alternância no poder, preferindo submeter a nação cubana à miséria e à fome, para se manter ditador. Pinochet deixou a economia chilena numa trajetória de crescimento sustentado de 6,5% ao ano. Antes de Fidel, a economia cubana era a terceira em renda por habitante entre os latino-americanos e hoje caiu ao nível do Haiti e da Bolívia.
O Chile exporta capitais, enquanto Fidel foi um pensionista da União Soviética e, agora, para arranjar divisas, conta com remessas de exilados e receitas de turismo e prostituição. Em termos de violência, o número de mortos e desaparecidos no Chile foi estimado em 3.000, enquanto Fidel fuzilou 17 mil!
Apesar de fronteiras terrestres porosas, o Chile, com população comparável à de Cuba e sem os tubarões do Caribe, sofreu um êxodo de apenas 30 mil chilenos, hoje em grande parte retornados. Sob Fidel, 20% da população da ilha, ou seja, algo que nas dimensões brasileiras seria comparável à Grande São Paulo, teve de fugir.
Em suma, Pinochet submeteu-se à democracia e tem bom senso
Parece-me ingenuidade histórica imaginar que, na ausência da revolução de 1964, o Brasil manteria apenas com alguns tropeços sua normalidade democrática. A verdade é que Jango Goulart não planejara minimamente sua sucessão, gerando suspeitas de continuísmo. E estava exposto a ventos de radicalização de duas origens: a radicalização sindical, que levaria à hiperinflação, e a radicalização ideológica, pregada por Brizola e Arraes, que podia resultar em guerra civil.
É sumamente melancólico - porém não irrealista - admitir-se que, no albor dos anos 60, este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: "anos de chumbo" ou "rios de sangue"...
Roberto Campos foi economista, político, diplomata e escritor.
18 de jun. de 2012
11 de jun. de 2012
8 de jun. de 2012
Criação de novos órgãos a partir de células-tronco
Cientistas
japoneses anunciaram nesta sexta-feira que conseguiram criar um fígado humano a
partir de células-tronco. O sucesso do procedimento renova a esperança de
que no futuro seja possível desenvolver órgãos artificiais e transplantá-los em
pacientes.
Uma
equipe de cientistas dirigida pelo professor Hideki Taniguchi, da Universidade
de Yokohama, transplantou células-tronco pluripotentes induzidas (iPS) no corpo
de um rato. Ali, elas cresceram até se converterem em um pequeno, mas
funcional, fígado humano.
Células-tronco
são frequentemente retiradas de embriões, que são então descartados, prática
que enfrente objeções na comunidade acadêmica e na sociedade. Já as células iPS
podem ser extraídas de indivíduos adultos. O resultado alcançado da pesquisa
foi divulgado no jornal japonês Yomiuri
Shimbun e será apresentado em uma conferência acadêmica que
acontecerá no Japão na próxima semana.
Experimento — A equipe do professor
Taniguchi transplantou as células iPS na cabeça de um rato para aproveitar o
alto fluxo de sangue do cérebro. Depois disso, segundo relatam os cientistas,
as células iPS se transformaram em um fígado humano de cinco milímetros, capaz
de produzir proteínas humanas e de decompor medicamentos.
O jornal
Yomiuri Shimbun
divulgou que a descoberta da equipe de Taniguchi é uma "ponte importante
entre a pesquisa básica e a aplicação clínica, mas encara vários desafios antes
de ser colocada em prática". Taniguchi não quis se pronunciar sobre o
assunto antes da apresentação do trabalho no evento científico, que acontecerá
na próxima semana.
As células iPS foram descobertas em 2006 por duas equipes distintas, uma dos Estados Unidos e outra do Japão.
As células iPS foram descobertas em 2006 por duas equipes distintas, uma dos Estados Unidos e outra do Japão.
CÉLULA-TRONCO
Célula capaz de se transformar (se diferenciar) em outra célula ou tecido especializado do corpo. Pode se replicar muitas vezes, diferente de outras células, como as do cérebro ou músculo.
Célula capaz de se transformar (se diferenciar) em outra célula ou tecido especializado do corpo. Pode se replicar muitas vezes, diferente de outras células, como as do cérebro ou músculo.
CÉLULA-TRONCO
PLURIPOTENTE INDUZIDA (iPS)
Célula adulta especializada que foi reprogramada geneticamente para o estágio de célula-tronco embrionária. Pode se transformar em qualquer tecido do corpo. Elas são obtidas por meio da reprogramação genética de células adultas. Uma célula somática (não envolvida diretamente na reprodução), como a da pele, pode "voltar" a um estágio similar ao de célula-tronco embrionária pela adição de alguns genes. Esses genes são transportados com a ajuda de vírus.
Célula adulta especializada que foi reprogramada geneticamente para o estágio de célula-tronco embrionária. Pode se transformar em qualquer tecido do corpo. Elas são obtidas por meio da reprogramação genética de células adultas. Uma célula somática (não envolvida diretamente na reprodução), como a da pele, pode "voltar" a um estágio similar ao de célula-tronco embrionária pela adição de alguns genes. Esses genes são transportados com a ajuda de vírus.
Fonte: Revista Veja
7 de jun. de 2012
3 de jun. de 2012
2 de jun. de 2012
Andrew Latimer, guitarra e flauta
Camel - Rhayader Goes To Town
Camel - Air Born
Camel - Song Within A Song
Camel - Pressure Points
Camel - Air Born
Camel - Song Within A Song
Camel - Pressure Points
"Nada excita mais a fúria dos vampiros morais do stalinismo e do fascismo que a liberdade que se exerce sem pedir licença a aiatolás da ideologia."
Reinaldo
Azevedo comemorando o aniversário de seu blog:
*
O pão nosso da alegria
O pão nosso da alegria
Neste mês, o blog que mantenho na VEJA Online completa seis anos.
A página é acessada entre 100 000 e 150 000 vezes por dia — com um pico de
234.640. Nesse tempo, já foram ao ar quase 35 000 posts e 1,8 milhão de
comentários. Acusam-me algumas pessoas de obsessivo, e os números não as
deixam mentir. Tornei-me dependente do diálogo cotidiano que mantenho com
milhares de leitores Brasil afora — e um bom tanto espalhado aí por esse
mundão. Se não posso, a exemplo de Mário de Andrade, compor um “Lundu do
Escritor Difícil”, sei que não sou muito fácil, especialmente porque gosto de
escrever textos longos, de intercalar frases, de coordenar orações subordinadas
que se distanciam perigosamente da principal, de explorar recursos já
emperrados da sintaxe, de brincar com o meu apreço pela ordem.
Diziam-me nos primórdios: “Assim você não vai longe; internautas
não têm tempo e paciência para esse estilo”. Sou grato pela confiança até dos
que odeiam a minha página com comovente dedicação. Não raro, o amor pode se
distrair e cair presa, ainda que por um lapso, de outros encantos. Mas o ódio é
fiel porque dedicado escravo do ressentimento. O amor é altivo e, liberto,
esquiva-se às vezes para ser reconquistado. O ódio se oferece todos os dias ao
desprezo para se nutrir do bem que não pode alcançar. Aos que amam, tenho de
lhes fazer todos os dias a corte com textos novos e primícias, como o enamorado
cativo. Os que odeiam me pedem bem menos: basta que eu exista para que tenham
razão de ser.
Os que amam não buscam apenas a minha luta cotidiana com as
palavras, que o poeta Carlos Drummond de Andrade já chamou de “a luta mais vã”.
Também se alimentam da minha paixão, que é a deles, pela divergência, pelo
debate, pelo contraditório. E o amor pode ser flamejante e se fazer fogo que
arde pra se ver, sim! E recorre a paradoxos para expor todos os relevos de seu
contentamento descontente. Escrevo páginas para os que têm sede de justiça e
para os que apreciam a lógica com método. Conquistei — digo-o com um
orgulho maior do que possa abrigar — leitores que me pegam pelo braço, que
são os meus Virgílios nos círculos do inferno e os anjos que me livram de
diabólicos ardis, como a alma de Fausto, resgatada pelos céus na hora final. Os
meus leitores me ensinaram a ser uma pessoa melhor.
É possível que outro veículo pudesse abrigar o blog ou este texto,
mas é a VEJA que faz uma coisa e outra. Nestes seis anos, ainda que a vanguarda
do retrocesso tentasse avançar e vencer, clamando, como a Rainha de Copas,
“cortem-lhe a cabeça, cortem-lhe a cabeça”, constatei que, nesta revista, a
liberdade de pensamento não é mera dama de companhia da história: presente, mas
servil; educada, mas obediente; altiva, mas com autonomia não mais do que
derivada. Os fundamentos do estado democrático e de direito é que têm a tutela
de nossos pensamentos, de nossas utopias, de nossas prefigurações.
Nada excita mais a fúria dos vampiros morais do stalinismo e do
fascismo que a liberdade que se exerce sem pedir licença a aiatolás da
ideologia. Uns estão convictos de que sua leitura de mundo foi alçada à
condição de uma teologia que não pode ser confrontada. Outros entendem que
ganharam nas urnas o direito de solapar os fundamentos daquilo mesmo que lhes
deu expressão: as garantias democráticas. Satanizam, então, a divergência e a
convicção alheia como expressões do sectarismo, do preconceito e do ódio.
Atribuem a seus adversários aquilo que eles próprios prodigalizam. Quantas
vezes já não fui acusado de “intolerante” não porque excitasse a fúria de
eventuais algozes de meus adversários de pensamento, mas porque, ao discordar
de uma falsidade influente vendida como verdade, desafinei o coro dos
contentes.
Escrevi em 2006 um artigo para o Globo em que citava uma epígrafe que
está na edição inglesa (Penguin Books) do livro “The Captive Mind”, do
poeta polonês Czeslaw Milosz, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1980.
Relembro-a aqui. É um ditado ou, talvez, um aforismo espichado, atribuído a um
velho judeu da Galícia: “Quando alguém está 55% certo, isso é muito bom e não
há discussão. Se alguém está 60% certo, isso é maravilhoso, é uma grande sorte,
ele que agradeça a Deus. Mas o que dizer sobre estar 75% certo? Os prudentes já
acham isso suspeito. Bem, e sobre estar 100% certo? Quem quer que diga estar
100% é um fanático, um facínora, o pior tipo de velhaco”.
Os que se arvoram em donos do pensamento tentam nos fazer duvidar
de nossas convicções não porque tenham os melhores argumentos ou porque dotados
de uma razão científica superior, que desmoraliza nossos preconceitos ou nossas
impressões, mas porque dominam o que chamo “aparelhos sindicais do pensamento”.
Ainda que os fatos e a verdade da ciência possam estar do nosso lado, tentam se
impor porque supostamente mais humanistas do que nós, mais justos do que nós,
mais sonhadores do que nós, mais bondosos do que nós, mais “amigos do povo” do
que nós.
Há quase três meses, as harpias do oficialismo mais subserviente,
da imoralidade mais chã, da prepotência mais rastaquera têm exibido as suas
garras financiadas para tentar intimidar o jornalismo independente, que não
deve vassalagem aos donos do poder, que está comprometido com os fatos, que
busca a verdade, anseio de milhões de pessoas, ainda que uns poucos não
queiram. São prestadores de serviço que se disfarçam de jornalistas; amantes do
dinheiro vivo que se alimentam de ideias mortas; reputações que encontram no
limo a justa recompensa moral por sua vileza intelectual, pelo baixo propósito
de seus anseios, pela estupidez falastrona de suas predições. Trata-se, em
suma, de uma variante do poder arbitrário formada por gente paga pelo erário
para assediar moralmente o jornalismo e os jornalistas que estão comprometidos
com os fatos e com o conjunto de valores que definem o estado democrático e de
direito.
É claro que meu blog não poderia escapar ao radar desses seres
trevosos. Na periferia do pensamento, não raro ignorados pela relevância,
esmagados pela própria pequenez, gritam, sem que possam apontar um só texto que
justifique a sua inútil histeria: “Vejam como ele odeia em vez de debater!
Cortem-lhe a cabeça!”. Fazem-no sem contestar uma só das teses ou das
evidências que apresento, exibindo uma assombrosa ignorância e excitando, eles
sim, uma súcia de outros ignorantes e truculentos, que tentam transformar a
vulgaridade, o baixo calão, a ignomínia e a ofensa em categorias de pensamento.
São os zumbis de um passado que tenta não passar. Mas sabem que já morreram.
Em outubro de 2008,
a Editora Record convidou-me para lançar um livro com
uma coletânea de artigos do blog, que resultou em “O País dos Petralhas”, que
vendeu mais de 50 000 exemplares. Em 2010, foi a vez de “Máximas de Um País
Mínimo”, um livrinho de frases, que chegou à marca dos 20 000. Acabo de assinar
um contrato para fazer “O País dos Petralhas II”. Ainda não sei se o subtítulo
será “A Luta Continua” ou “O Inimigo agora é o Mesmo”, parafraseando, pelo
avesso, o “Tropa de Elite II”. Nos mais de 400 (!) artigos do Volume
I — e assim será no II —, o debate de ideias, o exercício da divergência,
o prazer da discordância.
Quero dizer à vanguarda do atraso que ela nem avança nem vence. É
de Rosa Luxemburgo, uma socialista intelectualmente honesta dentro do seu
equívoco — e isso quer dizer “ingênua” —, uma das frases que tomo como
divisa: “Liberdade é, apenas e exclusivamente, a liberdade dos que pensam de
modo diferente”. Rosa Luxemburgo esfregou a frase nas fuças de Lênin e Trotsky
ao perceber que o primeiro ato dos facinorosos travestidos de libertários seria
golpear a Assembleia Constituinte.
Não, não, caras e caros! Não tomei borrachada nas ruas em defesa
da democracia nem me expus tão cedo a riscos consideráveis para que agora
intolerantes viessem a cobrar caro por aquilo que a Constituição (que eles se
negaram a homologar) me dá de graça: o direito à divergência e à verdade. A
verdade que quero não é patrocinada pelo estado nem definida por comissário com
atestado de pureza ideológica.
Quero a verdade precária do suceder dos dias.
Quero a verdade eterna reforçada pelas verdades novas.
Quero a verdade que nasce do exercício da liberdade.
A liberdade é o “Pai Nosso” do civilismo, o pão nosso da alegria!
Quero a verdade eterna reforçada pelas verdades novas.
Quero a verdade que nasce do exercício da liberdade.
A liberdade é o “Pai Nosso” do civilismo, o pão nosso da alegria!
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