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15 de mar. de 2013

Luís Dolhnikoff - Poesia


À LUZ DA ANDALUZIA


não tenho interesse pelo islã
 
quando acordo de manhã
penso no meu trabalho
na roupa que irei vestir
no tempo que vai fazer
no que comer no café
mas não em maomé

a direção do vento me afeta
muito mais que a de meca

se ao longo do dia
penso no islã
é porque o islã
ao longo do dia
entra em minha casa
pelas mãos de uma notícia

nunca é positiva

puro preconceito da mídia
rezam os muçulmanos

isto considerando
em momentos de ócio
pus-me a pensar com minúcia
nos muitos afazeres humanos

não nos mais cotidianos
como comer, dormir, defecar
mas nos que pedem a mediação
do pensamento e da ação

em suma
o que se costuma chamar de cultura
 
fiz então uma pequena lista:
leis inovadoras
inovações artísticas
novidades tecnológicas
descobertas científicas
organização política
história olímpica
montagens de ópera
comédias teatrais
artes gráficas
crítica literária
estudos de filosofia
novos materiais
novas arquiteturas
viagens espaciais
necessidades especiais
pesquisa agrícola
design de automóveis
adestramento de cães
mapeamento da flora
indústria da moda
estudos de geologia
previsão meteorológica
previsão de terremotos
prevenção de acidentes
tratamento dos dentes
cirurgia estética
renovação da ética
novidades da ótica
inovações náuticas
astronáuticas
ou internáuticas
 
não importa quantos itens
se acrescentem à lista
a parte do islã
é bem específica:
encher o mundo de mesquitas
escolas corânicas
e mulheres mal-vestidas
 
porém na andaluzia
mil anos atrás
a estrela do islã reluzia
dizia-me uma tia
 
ao que eu, infiel e infeliz
respondia:
mas, titia
o mundo é maior que a andaluzia
e mil anos não são pouca porcaria
 
verdade, meu filho:
porém é mais polido
apontar nos demais suas qualidades
principalmente as raras
 
sim, titia:
mil anos atrás
na bela andaluzia
a estrela do islã reluzia...

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