por Roberto Barricelli
Em 1929, sob o comando de Joseph Stalin, a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) iniciou uma campanha de coletivização
forçada sobre as propriedades rurais, principalmente na Ucrânia, cujo
sentimento nacional era considerado um perigo real aos interesses comunistas.
Primeiro todos os Kulaks (fazendeiros donos de
quantidade expressiva de terras) foram declarados sabotadores e inimigos
da União Soviética. Após isso, o Governo iniciou sua campanha para colocar os
camponeses contra esses.
Imagina a “surpresa” de Stalin ao descobrir que os
camponeses eram ainda mais contra a política soviética do que os próprios Kulaks?
Não pensou duas vezes e prendeu, deportou, assassinou, enfim, exterminou
os Kulaks existentes, para depois utilizar o termo para qualquer
camponês que cometesse o terrível crime de possuir duas vacas, plantar e colher
para si, colher batatas, etc.
A coletivização forçada pretendia suprir o que o governo
soviético considerava necessário em cereais para abastecer as cidades, sendo
iniciada em 1929. Porém, tomou dimensões nefastas e foi utilizada como tática
de extermínio. Essa ordem gerou o desestímulo à produção, pois “porque
produzirei que nem um maluco, se no final tudo ficará ao Estado e passarei
fome?”. Então, Stalin classificou a todos como “Kulaks sabotadores” e
utilizou este discurso para legitimar de vez a coletivização forçada.
Em 1932, com a coletivização forçada já praticamente
concluída e todos aqueles a quem se poderia chamar de Kulaks (pela
definição criada por Stalin) mortos, presos ou em fazendas coletivas para
trabalhos forçados, Stalin ordenou uma caça aos intelectuais e personalidades
culturais da Ucrânia, pois via nestes a possibilidade de tornarem-se líderes
naturais de uma possível resistência ao regime comunista. Após alcançar tal
meta, voltou-se aos camponeses, que devido ao seu nacionalismo e tradições,
deveriam ter a mente, o corpo e o espírito dilacerados.
Stalin começou propositalmente estipulando a produção de uma
quantidade mínima X para abastecer as cidades, porém, a quantidade estipulada
era muito acima da real capacidade de produção. Nessa época as propriedades
privadas já tinham sido transformadas em enormes fazendas estatais coletivas.
Com 20 milhões de propriedades rurais privadas agora
transformadas em 240 mil fazendas estatais, com os “falsos Kulaks”
obrigados a trabalhar nestas e a determinação de uma produção mínima, porém
maior que a capacidade de produzir, Stalin levou os ucranianos ao limite da
fome e miséria humanas.
Ora, se não produziam sequer o que estava definido como
necessário para o abastecimento das cidades, logo, não lhes sobrava nada para
comer. A fome foi instituída pela União Soviética ao povo da Ucrânia, resultando
no terrível Holodomor, em 1932-1933. Nesse curto período de tempo, devido a
fome, morreram aproximadamente 6 milhões de ucranianos. Mas a situação piora e
é de embrulhar o estômago.
Como obviamente a produção ficara abaixo da meta estipulada,
Stalin deu ordens para seus ativistas confiscarem dos camponeses todo o cereal
que estes tivessem, com a desculpa de que precisavam ficar dentro de tal meta
pelo bem da URSS e de seu “povo”. Estes ativistas invadiam as casas dos
ucranianos à procura de comida que estes escondiam para a própria
sobrevivência. Colher o fruto do seu próprio trabalho virara crime hediondo,
com penas de 10 anos, ou até de morte.
Em 1933, com a Ucrânia à beira do extermínio em massa de seu
povo pela fome, Stalin aumentou a meta de produção e coleta de cereais. Foi o
golpe final de Stalin sobre os ucranianos. A partir desse momento, corpos eram
encontrados por todos os lugares e a loucura estava espalhada. Há documentados
casos de canibalismo; imagine que crianças, idosos e outras pessoas
desapareciam “misteriosamente”, mas na verdade foram assassinados e devorados
por parentes (até Mães e Pais) e vizinhos, ou estranhos. Há relatos de pessoas
devoradas vivas.
Claro que, ao longo dos anos, tentaram desacreditar os
fatos, porém, documentos foram encontrados e sobreviventes contaram pelo que
passaram. Até ativistas da URSS confessaram os crimes hediondos contra a
humanidade. Recomendo a leitura do livro The Harvest of Sorrow (A colheita do
sofrimento), de Robert Conquest, onde visualizarão os horrores do Holodomor
através dos relatos e documentos mencionados.
Voltando, os ativistas diziam a si próprios que o que faziam
era necessário pelo bem do comunismo e da União Soviética, sendo legitimável o
assassinato de milhões de pessoas. Se, além da fome, considerarmos outros
incidentes com camponeses, provocados pela política nefasta de Joseph Stalin,
no período de 1930 até 1937, o número de mortos/assassinados sobe para 14,5
milhões.
Stalin acreditava firmemente que se tudo não fosse do
Estado, a URSS entraria em colapso e a produção de cereais seria insuficiente
para suprir as necessidades do povo. Bem, ele estava tão errado, que em 1985,
com Mikhail Gorbachev no poder, nos 2% de terra privada que restara eram
produzidos 30% do total de cereais. Iniciativa privada provando novamente ser
melhor e mais eficaz que a socialização.
Atualmente a Ucrânia passa por fortes protestos pelo
congelamento da assinatura de um acordo com a União Europeia e possibilidade de
assinatura de um acordo com a Rússia, aproximação essa que nem há anos luz de
distância querem os ucranianos, tamanho o trauma sofrido nas mãos do Kremlin.
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