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17 de nov. de 2010

A vez da herança "marvada"

Direto do Vespeiro:

Desgraçadamente para o Brasil, a maldita está se esgotando. Agora começa a aparecer a herança “marvada”, que é a que o Lula estava escondendo.

De repente, não mais que de repente, o cenário cor de rosa que brilhou como nunca antes na historia deste pais até precisamente o depósito do ultimo voto na urna a 31 de outubro próximo passado tornou-se cinza chumbo.

Um documento reservado do Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comercio Exterior obtido pelo Valor e dados divulgados pelo IBGE na ultima sexta-feira que o Diário do Comércio apresenta hoje apontam na mesma direção: vai longe, muito longe o “processo de desindustrialização” e a “reprimarização da pauta de exportações” do Brasil que antecipam o desemprego futuro.

O pais volta a depender cada vez mais dos capitais financeiros especulativos para fechar as suas contas.

Ao fim de oito anos de Lula e no limiar de possíveis outros 12 nos só ganhamos do resto do mundo na venda dos produtos primários que Deus nos concedeu e negou aos demais países, como minérios e grãos (estes enquanto o MST assim o permitir).

Em todo o resto, nós perdemos mercados.

Pago o preço cobrado no mercado local, que tem os trabalhadores mais bem remunerados da Europa, e com todos os impostos de importação recolhidos, o aço feito na Alemanha, por exemplo, custa para o consumidor brasileiro, depois de atravessar o Atlântico e subir a Serra do Mar, 40% menos que o aço feito aqui mesmo, no Brasil.

O feito na China então, depois de dar uma volta ao mundo completa, pois que a matéria prima é importada do Brasil e volta depois de processada, chega aqui custando a metade do que custa o aço brasileiro.

No setor de eletrodomésticos, mostra o IBGE, a produção da industria nacional caiu 9,9% enquanto o consumo subiu 14,4%. O varejo em geral teve um crescimento de vendas de 11,8% enquanto a produção industrial como um todo aumentou apenas 6,3%. A diferença são os importados.

O consumo de energia, principal insumo da industria, vem caindo a pino: 8,3% em maio, 8,6% em junho, 7,2% em julho, 6,8% em agosto, 6,2% em setembro…

Os dados do IBGE são o registro inequívoco dos traços da droga que anabolizou esta eleição. Mostram como o consumo foi inflado artificialmente, com crédito subsidiado, sem que crescesse de forma correspondente a fonte ultima geradora de mais e melhores salários que é a produção.

Os números que o ministério de Lula ainda tenta esconder mostram problema ainda mais cabeludo. Com a crise dos países ricos os preços do aço caíram e a demanda só se manteve nos remediados em crescimento como nós. Antes a demanda mundial sustentava os desaforos praticados no Brasil contra os custos de produção (impostos, educação, transporte, segurança, etc.). Desde o final de 2007 a situação se inverteu. E o efeito vem se agravando em multiplicação geométrica com a queda da cotação do dólar.

De janeiro a setembro deste ano as importações de aço subiram a R$ 3,95 bilhões, quase o dobro dos R$ 2,06 embarcados em igual período de 2009.

A industria de transformação – têxtil, calçados, confecções, moveis, etc. – que chegou a um superávit recorde de US$ 31,9 bilhões em 2005, entrou no negativo a partir de 2008 e registrou um déficit de US$ 13 bilhões no primeiro semestre de 2010.

Automóveis e outros veículos passaram de um superávit médio de US$ 9,1 bilhões entre 2004 e 2007 para um déficit de US$ 3,1 bilhões em 2009.

Mas o dólar cai para todo o mundo. E conforme nota outro que já foi “o cara” no passado, o ex-ministro Delfim Netto, “a produtividade do trabalhador brasileiro e do chinês é praticamente a mesma; nós perdemos da porta da fábrica para fora porque o Estado chinês é mais ousado e eficiente do que o nosso”.

De fato. Como na China a imprensa já foi calada e a oposição já foi “extinta”, como gostaria que acontecesse aqui também “o cara” atual, quem vota, lá, são só umas poucas dúzias de membros do Escritório Político do partido único no poder. Já aqui, ha 136 milhões de eleitores que precisam ser “conquistados” a cada eleição. Para amaciá-los é preciso haver uma vasta coletânea de “bolsas” para gostos variados e uma militância com tempo e disposição para trabalhar essa massa de eleitores corpo a corpo. E isso se fabrica empregando a companheirada do PT e dos seus 10 aliados aos milhões e dando-lhes garantias ilimitadas para que “reivindiquem” à vontade e sejam sempre atendidos sem correr grandes riscos, de modo cevá-los em tais e tantos luxos que a perspectiva de perdê-los faça qualquer sacrifício “mobilizativo” parecer irrelevante.

Isso cria essa militância disposta a tudo que nos conhecemos.

Alguém lembrará que a China tem mais empregados públicos que o Brasil o que é verdade. Mas como lá eles já desfrutam de todos os “direitos” com que o Plano Nacional de Direitos Humanos do PT ainda quer nos contemplar, as relações entre o capital e o trabalho na China vivem, literalmente, a paz dos cemitérios.

Diz “o cara” de outros tempos que, diante da conjuntura mundial, não ha meias medidas capazes de mudar esse quadro. O próprio ministério de Lula pede “medidas estruturantes” como redução de tributos sobre exportadores, simplificação de procedimentos burocráticos e políticas de incentivo à desvalorização do real (que, para serem de fato “estruturantes”, teriam de ser conseqüência de reduções dos gastos públicos que permitissem uma real queda dos juros). Condena explicitamente medidas que considera paliativos como as barreiras contra importações pleiteadas pelo Ministério da Fazenda.

Delfim, que pode ser mais incisivo, culpa diretamente os “compromissos de despesas permanentes que assumimos sem ter receitas garantidas” e pede “uma regra que produza uma taxa de crescimento das despesas do governo (excluídos os investimentos) menor que a do crescimento do PIB”.

Ilusões de noiva.

Para isso seria preciso pisar em calos amigos, coisa terminantemente proibida no código de etiqueta da Ilha da Fantasia. O ultimo que falou nisso pagou com o impeachment.

A verdade está com Lula, o pragmático, que não fala em outra coisa senão na volta da CPMF, o imposto que multiplica todos os impostos. E Brasília inteira, em plena temporada de caça, saliva pavlovianamente, como em toda a véspera de formação de governo, em cima de aumentos de salários acima de 50% que, uma vez conquistados são extensíveis a todos, oposição inclusive, e se engalfinha pelos novos cargos e ministérios em gestação.

Diante de tantos e tão espinhudos abacaxis, arrisco o meu palpite: sim, Lula, o nosso herói sem nenhum caráter, vai permitir que Dilma governe sozinha…

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