_________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

27 de jan. de 2013

Antimagneto: Invisibilidade magnética prática e simples

Um objeto colocado no interior do cilindro, além do próprio cilindro, são magneticamente indetectáveis.
Cientistas criaram uma camuflagem magnética extremamente simples, e que foge da linha tradicional das pesquisas na área, que vinha se baseando exclusivamente nos metamateriais.
O dispositivo, que fica totalmente invisível a um campo magnético, foi fabricado com materiais comprados no comércio, o que aponta para aplicações práticas a curto prazo.

Além dos metamateriais

A ciência dos dispositivos de camuflagem, ou mantos da invisibilidade  nasceu como uma curiosidade teórica há poucos anos, mas migrou rapidamente para os laboratórios, e vem atiçando a curiosidade do público e dos cientistas.
No ano passado, Alvaro Sanchez e seus colegas da Universidade Autônoma de Barcelona publicaram um artigo no qual demonstravam toda a teoria necessária para construir a camuflagem magnética, ou antimagneto, como eles chamavam o aparato.
Com suas equações embaixo do braço, os teóricos espanhóis contataram experimentalistas da Academia Eslovaca de Ciências, especialistas em medições muito precisas de campos magnéticos.
Fedor Gomory e seus colegas demoraram apenas alguns poucos meses para demonstrar o antimagneto na prática e confirmar as teorias do grupo espanhol.
O resultado é um desvio inesperado na área, mostrando que os metamateriais não são essenciais para criar invisibilidades.

Antimagneto

O manto da invisibilidade magnética, ou camuflagem magnética, consiste de um cilindro composto de duas camadas concêntricas.
A camada interna é um material supercondutor, que repele o campo magnético, enquanto a camada exterior é composta de um material ferromagnético - uma liga de ferro, níquel e cromo -, que atrai o campo magnético.
A camada supercondutora do cilindro impede que o campo magnético alcance o interior da camuflagem, mas distorce as linhas do campo ao seu redor.
A camada ferromagnética interna produz o efeito oposto: ela atrai as linhas do campo magnético, compensando a distorção criada pelo supercondutor, mas sem permitir que o campo magnético entre no interior do cilindro.

A camada ferromagnética do cilindro atrai as linhas do campo magnético (esquerda), enquanto a camada supercondutora os repele (direita).
O efeito global é um espaço interno do cilindro sem nenhum campo magnético, e absolutamente nenhuma distorção no campo magnético externo. Em outras palavras, não é possível detectar nem o cilindro e nem o objeto que for colocado em seu interior.

Aplicações médicas

Como o dispositivo foi fabricado com materiais disponíveis no comércio - o experimento inteiro custou US$1.300,00 -, e como ele opera em campos magnéticos relativamente fortes, os cientistas afirmam que ele poderá ser prontamente usado na prática.
Vale lembrar que, como usa um supercondutor, o dispositivo precisa de nitrogênio líquido para funcionar - mas equipamentos de imageamento médico também precisam.
Os cientistas citam como possibilidade de aplicação prática, por exemplo, um dispositivo que torne marca-passos e outros implantes médicos invisíveis aos campos magnéticos, permitindo que pacientes portadores desses implantes possam usufruir dos exames mais modernos, como a ressonância magnética.
Por outro lado, é fácil também imaginar aparatos não tão bem intencionados, como um antimagneto para esconder armas dos detectores magnéticos dos aeroportos. Mas, além de ainda ser impensável esconder um dispositivo criogênico com as dimensões necessárias, os aeroportos contam com outros mecanismos de checagem, como máquinas de raios X.

Cancelar o magnetismo

Os cientistas estão perfeitamente familiarizados com o processo de "criar" magnetismo - 99% da energia consumida no mundo usa geradores baseados no magnetismo, o fenômeno está presente em todos os motores elétricos e é a base de todo o armazenamento digital de dados.
Mas cancelar o magnetismo tem-se mostrado um desafio tanto científico quanto tecnológico.
Esta nova camuflagem magnética abre o caminho para que isso possa ser feito de maneira muito flexível, incluindo outras aplicações na tecnologia da informação, como a blindagem de dados armazenados magneticamente.


26 de jan. de 2013

A Língua da Poesia


por Ângelo Monteiro

A breve e límpida apresentação de Fábio de Andrade ao segundo livro de Bernardo Souto, Teatro de sombras consegue destacar dois elementos implicados em sua poética: uma língua de sombra a perpassar esse teatro, oculta no silêncio por trás das palavras, e a distinção fundamental entre esse dizer instantâneo, próprio da poesia, e um certo minimalismo em moda, de que serve de exemplo o pífio poema-piada. O poeta não esquece, para isso, o vaticínio da serpente, nietzschianamente presente no seu retorno à terra, e daí não se negar à sua lição:

Aprende o voo-flecha do peixe
e vislumbrarás o eterno.

Impelido pela força de cada canto o poeta não se cansa de "erigir/estátuas/de vento", mas são essas estátuas, em sua contínua formação, por meio da palavra, que vão dar sentido ao itinerário perseguido por ele, que não para de refletir o próprio movimento das coisas em direção à linguagem. Narciso é a imagem mais constante com que se depara toda busca humana, já que nenhum buscador deixará de dizer: "Sou estátua/ fitando/ o espelho". Quem de nós não se encontra permanentemente em luta entre o apelo de Narciso de se voltar para a própria face, e o desejo de ser por alguém escutado, embora saibamos que, ao fim de tudo, "nunca/ ninguém/ jamais/será escutado"? Ou nos consolamos com a descoberta do lado ignorado de nossa face, ou tentamos em vão ser compreendidos a partir da mensagem da qual nos julgamos fiéis depositários.

Mas insistimos em procurar a palavra não apenas enquanto meio de comunicação e, sim, como via de acesso capaz de nos irmanar com as demais coisas, levando-nos a outras formas de relação. Por isso nos diz Bernardo Souto:

só agora compreendo
o estranho idioma dos pássaros.

Pois é justamente esse idioma, que une o voo ao canto, que vai nos permitir a passagem para além dos limites em que nos estreitamos: é ele que nos fará chegar à língua da sombra e, por ela, ao estatuto mais íntimo de toda realidade, àquele estatuto por acaso pressentido por Hans Christian Anderson quando escreveu: "É da realidade que moldamos as nossas histórias de imaginação". De igual forma podemos falar da origem de todos os verdadeiros poemas. E como o canto é inseparável do conto – porque em ambos habita o mito – será nosso fado sempre esperar algo da poesia, porque só ela, em suas expressões cada vez mais novas e imprevisíveis, por vir da realidade, detém o poder de restaurá-la, quando não de salvá-la.

23 de jan. de 2013

É nóis na fita




Os Seios da Terra




Meu peito é eterna bondade-semente
da mãe-natureza, prenhe de doces frutos,
o sangue corrente nas veias da gente
é o mesmo que corre nos bichos mais brutos.

Meu peito é um rio de águas bem claras
que o homem moderno inda não sujou,
seu leite é o leito onde as aves mais raras
molham as belas penas quando faz calor.

Meu peito sacia a fome de amor
de paz e justiça dos filhos da terra.
Bicho-homem, perdido em intensa agonia,

Meu peito é um bálsamo que cura tua dor.
Queria que os meninos da rua e da guerra
mamassem em meu peito a eterna alegria.

22 de jan. de 2013

A substância dos genes

por António Piedade


Olhe para a sua mão. 
Cada uma das células da sua pele contem informação genética que herdou dos seus pais. Assim como uma ou outra ruga, escrita na sua pele pelo estilete vida, também essa informação genética foi de certa forma modelada pela sua interação com os lugares por onde o leitor passou, os ares que respirou, a comida que ingeriu, as emoções que viveu.
No núcleo de cada uma dessas células (assim como as de todo o corpo, mas excluindo as células reprodutivas) existem 46 cromossomos agrupados aos pares: cada um dos 23 que herdou da sua mãe emparelhou, desde a fecundação que lhe deu origem, com os homólogos 23 que recebeu do seu pai.


Cada cromossomo contem os genes onde estão inscritas as informações para a forma da sua mão, assim como para as proteínas fotorreceptoras que estão na sua retina e que permitem que esteja a ler este texto. De resto, os 46 cromossomos contém a grande maioria dos genes que instruem a maquinaria proteica a ser o que somos na nossa relação com o ambiente e com os outros seres que coabitam connosco nesta lágrima de tempo que é a nossa existência.
Escrevi a grande maioria porque nem todos os genes que nos permitem a vida estão nos cromossomos dos núcleos celulares. Cada célula possuiu inúmeras organelas chamadas mitocôndrias, que herdamos por via materna e que possuem, cada uma, um cromossomo com genes também com informação preciosa para a nossa vida. Bem preciosa, até porque as mitocôndrias são autênticas centrais energéticas e metabólicas dentro das células.
Mas voltemos aos cromossomos. Eles são uma complexa estrutura composta por uma longa molécula de ácido desoxirribonucleico, vulgarmente designada por ADN, e por diversas proteínas com diversas funções.
 
Desde os trabalhos de James Watson, Francis Crick, Rosalind Franklin e Maurice Wilkins, nos primeiros anos da década de cinquenta do século XX - que culminaram com a resolução da estrutura do ADN - que construímos e desenvolvemos uma genética e biologia moleculares modernas assentes numa hélice dupla para a molécula dos genes.
Comemoram-se em 2013 os 60 anos da descoberta dessa estrutura em dupla hélice para o ADN das nossas vidas. Foram 60 anos de avanços inigualáveis na compreensão de como a vida se organiza e funciona. Em 1953, a estrutura foi desvendada a partir da técnica da cristalografia por difração de raios X.

Cristalografia por difração de raios X de um cristal de um sal de ADN.

O padrão registado na "radiografia" efetuada por Rosalind Franklin de um determinado cristal de ADN é ainda hoje um ícone, mas a sua interpretação requer conhecimento especializado. Os nossos olhos não conseguem fazer a transposição entre essa imagem e a da dupla hélice. Mas o modelo proposto por Watson e Crick foi fundamental para a revolução genética a que assistimos nas últimas seis décadas.

Esquema para a dupla hélice de ADN

60 anos depois, o avanço da nanotecnologia e da microscopia eletrônica permitiu, finalmente, “ver” e confirmar a estrutura em dupla hélice para o ADN. Investigadores do Instituto Italiano de Tecnologia liderados por Enzo di Fabrizio publicaram na revista “NanoLetters” as novas imagens por eles obtidas e que o leitor também pode ver a seguir.

Microscopia eletrônica de varrimento de uma molécula de ADN. Os passos sucessivos da hélice estão assinalados pelas setas vermelhas. Créditos Enzo di Fabrizio.

O aspecto mais compacto da dupla hélice aqui visto é o esperado para a molécula de ADN desidratada, com uma distância entre cada volta ou passo da hélice (entre as setas) de 2,7 nanômetros (1 nanômetro = um milionésimo de milímetro).

Apesar de não corresponder ao que se espera ser a sua conformação nas condições fisiológicas existentes no interior dos cromossomos no núcleo das células, é preciso recordar que o sal de ADN utilizado por Rosalind Franklin para cristalizar o ADN e que levou à proposta por Watson e Crick da sua estrutura helicoidal, também não se encontrava em condições fisiológicas.

E, contudo, desenvolveu a ciência numa espiral sem precedentes de novos conhecimentos sobre a vida. 

19 de jan. de 2013

Sorria, você está sendo roubado

por Guilherme Fiuza

O “Financial Times” disse que o jeitinho brasileiro chegou ao comando da política econômica. O jornal britânico se referia à solidariedade entre os companheiros Fernando Haddad e Guido Mantega, num arranjo para que a prefeitura de São Paulo retardasse o aumento nas tarifas de ônibus, ajudando o Ministério da Fazenda a disfarçar a subida da inflação.

A expressão usada pelo “Financial Times” é inadequada. Os britânicos não sabem que esse conceito quase simpático de malandragem brasileira está superado. O profissionalismo do governo popular não mais comporta diminutivos.

No Brasil progressista de hoje, os números dançam conforme a música. E a maquiagem das contas públicas já se faz a céu aberto: o império do oprimido perdeu a vergonha.

No fechamento do balanço de 2012, por exemplo, os companheiros da tesouraria acharam por bem separar mais 50 bilhões de reais para gastar. Faz todo o sentido. Este ano as torneiras têm que estar bem abertas, porque ano que vem tem eleição e é preciso irrigar as contas dos aliados em todo esse Brasil grande. A execução do desfalque no orçamento foi um sucesso.

Entre outras mágicas, o governo popular engendrou uma espécie de “lavagem de dívida” para fabricar superávit. Marcos Valério ficaria encabulado.

O Tesouro Nacional fez injeções de recursos em série no BNDES, que por sua vez derramou financiamentos bilionários nas principais estatais, e estas anteciparam sua distribuição de dividendos, que apareceram como crédito na conta de quem? Dele mesmo, o Tesouro Nacional — o único ente capaz de torrar dinheiro e lucrar com isso.

Ao “Financial Times”, seria preciso esclarecer: isso não é jeitinho, é roubo.

A “contabilidade criativa” — patente requerida pelos mesmos autores dos “recursos não contabilizados” que explicavam o mensalão — não é vista como estelionato porque o brasileiro é um amistoso, um magnânimo, deslumbrado com seu final feliz ao eleger presidente uma mulher inventada por um operário. Não fosse isso, era caso de polícia.

A falsidade ideológica nas contas do governo Dilma rouba do cidadão para dar ao governo. Ao esconder dívidas e “esquentar” gastos abusivos, a Fazenda Nacional fabrica créditos inexistentes — que serão pagos pelos consumidores e contribuintes, como em toda desordem fiscal, através de impostos invisíveis. O mais conhecido deles é a inflação.

Em outras palavras: o jeitinho encontrado pelo companheiro-ministro da Fazenda para maquiar a inflação é um antídoto contra o jeitinho por ele mesmo usado para aumentar a gastança pública.

O maior escândalo não é a orgia administrativa que corrói os fundamentos da estabilidade econômica, tão dificilmente alcançada. O grande escândalo é a passividade com que o Brasil assiste a isso, numa boa.

Se distrai com polêmicas sobre “pibinho” ou “pibão”, repercute bravatas presidenciais sopradas por marqueteiros, e não reage ao evidente aumento do custo de vida, aos impostos mais altos do mundo que vêm acompanhados, paradoxalmente, por recordes negativos de investimento público. A bandalheira fiscal é abençoada por um silêncio continental. Nem a ditadura conseguiu esse milagre.

No auge da era da informação, o Brasil nunca foi tão ignorante. Acha que as baixas taxas de desemprego — fruto de um ciclo virtuoso propiciado pela organização macroeconômica — são obra de um governo com “sensibilidade social”.

Justamente o governo que está avacalhando a estabilização, estourando a meta de inflação e matando a galinha dos ovos de ouro. Esse Brasil obtuso acha que as classes C e D ascenderam ao consumo porque o que faltava, em 500 anos de história, era um governo bonzinho para inventar umas bolsas e distribuir dinheiro de graça.

Esse mal-entendido pueril gera uma blindagem política invencível. Os passageiros que assaram no Galeão e no Santos Dumont, no vergonhoso colapso simultâneo de dezembro, são incapazes de relacionar seu calvário ao caso Rosemary — a afilhada de Lula e Dilma que protagonizou o escândalo da Anac, por acaso a agência responsável pela qualidade dos aeroportos.

O governo popular transforma as agências reguladoras em cabides para os companheiros e centrais de negociatas, e o contribuinte sofre com a infraestrutura depenada como se fosse uma catástrofe natural, um efeito do El Niño. Novamente, nem os generais viveram tão imunes à crítica.

Com a longevidade do PT no Planalto, o assalto ao Estado vai se sofisticando. A área econômica, que era indevassável à politicagem, hoje tem a Secretaria do Tesouro devidamente aparelhada — um militante do partido com a chave do cofre. E tome contabilidade criativa.

Definitivamente, o Brasil não aprendeu nada com a lição do mensalão. Os parasitas progressistas estão aí, deitando e rolando (de tão gordos), rumo ao quarto mandato consecutivo.

Não contem para o “Financial Times”, mas a conta vai chegar.

6 de jan. de 2013

Epifania


por Bento XVI

A Epifania é a manifestação "da bondade de Deus e do seu amor pelos homens": foi o que afirmou o Papa na missa por ele presidida na manhã deste domingo, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, na Solenidade da Epifania do Senhor.
Na homilia, o Papa convidou os bispos a imitarem os Magos, homens que partiram rumo ao desconhecido, "homens inquietos movidos pela busca de Deus e da salvação do mundo; homens à espera, que não se contentavam com seus rendimentos assegurados e com uma posição social provavelmente considerável, mas andavam à procura da realidade maior".
"Talvez fossem homens eruditos – continuou o Santo Padre –, que tinham grande conhecimento dos astros e, provavelmente, dispunham também duma formação filosófica; mas não era apenas saber muitas coisas que queriam; queriam, sobretudo, saber o essencial, queriam saber como se consegue ser pessoa humana. E, por isso, queriam saber se Deus existe, onde está e como é; se Se preocupa conosco e como podemos encontrá-Lo."
"Queriam não apenas saber; queriam conhecer a verdade acerca de nós mesmos, de Deus e do mundo. A sua peregrinação exterior era expressão deste estar interiormente a caminho, da peregrinação interior do seu coração. Eram homens que buscavam a Deus e, em última instância, caminhavam para Ele; eram indagadores de Deus."
"Era preciso coragem a fim de acolher o sinal da estrela como uma ordem para partir, para sair rumo ao desconhecido, ao incerto, por caminhos onde havia inúmeros perigos à espreita. Podemos imaginar que a decisão destes homens tenha provocado sarcasmo: o sarcasmo dos ditos realistas que podiam apenas zombar das fantasias destes homens. Quem partia baseado em promessas tão incertas, arriscando tudo, só podia aparecer como ridículo. Mas, para estes homens tocados interiormente por Deus, era mais importante o caminho segundo as indicações divinas do que a opinião alheia. Para eles, a busca da verdade era mais importante que a zombaria do mundo, aparentemente inteligente."
Os Magos – concluiu Bento XVI – seguiram a estrela e assim chegaram a Jesus, à grande Luz que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem (cf. Jo 1, 9). Como peregrinos da fé, os Magos tornaram-se eles mesmos estrelas que brilham no céu da história e nos indicam a estrada.

Douta análise


por Henrique Meirelles

É importante entender o drama de fim de ano nos EUA para evitar o chamado "abismo fiscal" e como essa discussão pode ser útil ao Brasil. Hoje, é consenso que expansão no gasto público ou diminuição da tributação geram aumento da atividade econômica. Quando o governo gasta mais, expande a atividade. Quando arrecada menos e deixa mais recursos ao setor privado, este também gasta mais e expande a atividade. 

Essa conclusão agradou a muitos formuladores de política econômica e gestores públicos. É interessante achar que não só se está gastando mais, como se está contribuindo para elevar a atividade. O problema é que, na medida em que se eleva o gasto e se diminui a arrecadação, esse diferencial é coberto por empréstimos via emissão de títulos da dívida pública.

Isso pode ser feito com facilidade, enquanto existirem investidores dispostos a financiar o governo a taxas baixas. Mas, a partir de certo momento, os juros começam a subir e, após certos níveis de endividamento, os governos começam a perder capacidade de se financiar.

Já vivemos essa crise no Brasil e em outros países emergentes várias vezes, e, hoje, a vemos na Grécia e em outros países europeus. É o problema do país que atinge os limites do endividamento, já que a solução de longo prazo passa a ser a redução da dívida pública, com corte de gastos e mais impostos. No curto prazo, isso reduz a atividade e pode reduzir a arrecadação. Dependendo da escala, gera ciclo vicioso, como na Grécia O desafio ao país que ainda não atingiu essa fase dramática é tomar as medidas certas para evitá-la. É onde se situa a discussão americana. 

A questão dos EUA é como evitar que a dívida pública siga subindo na velocidade das últimas décadas e comprometa sua capacidade de se financiar. Com esse fim, medidas draconianas de aumento de impostos e corte de gastos foram acordadas no Congresso para serem implementadas automaticamente, na ausência de acordo para reequilibrar o Orçamento até o fim de 2012. A conjunção dessas medidas levaria a uma curta recessão econômica, o "abismo fiscal".

O resultado final trouxe um pouco para cada lado e não satisfez ninguém completamente. Não prevê alta de impostos tão agressiva, como queriam os democratas, nem corte de despesas substancial, como queriam os republicanos. A lição é simples: no momento em que a dívida começa a crescer de forma a sinalizar insustentabilidade no médio prazo, todas as soluções são ruins. 

A melhor solução para todos, e especialmente para o Brasil, é preservar a disciplina fiscal duramente conquistada e manter a dívida pública controlada para que não tenhamos de enfrentar esse dilema de Sofia diante de muitos países. 

5 de jan. de 2013

Desde os tempos do Onça


por Kátia Abreu

Alceu Amoroso Lima anotava como uma das distorções de origem do Brasil o fato de que aqui o Estado surgiu antes da nação. Antes de haver povo, que seria importado de Portugal e da África, já o Estado colonial se instalava com suas leis e privilégios. 

Não é casual que nosso primeiro cronista, Pero Vaz de Caminha, fosse um escrivão da Corte a chancelar a presença, ainda hoje atuante, do Estado cartorial. Na carta em que descreve suas impressões do Brasil, pede, a certa altura, um emprego na Corte para um sobrinho que estava na África. Dava curso, assim, a um costume ainda atual. "Senhor, nesta terra todos roubam" --começava assim, mais de dois séculos depois, em 1724, um relatório do coronel Luís Vahia Monteiro, nomeado governador do Rio de Janeiro pelo rei dom João 5º, preocupado com a crescente redução de receitas públicas na colônia sul-americana. Roubo. 

Vahia, apelidado de "o Onça" pela ferocidade com que combatia a corrupção, era coronel da infantaria do Reino. O rei, que lhe tinha cega confiança, incumbiu-o da missão de promover uma faxina moral na administração da colônia. Nada de novo, não é? Após minuciosa vistoria, Onça concluiu o que está em síntese na frase com que iniciou o seu relatório. É uma frase que, nos três ciclos da história política do país --colônia, monarquia e república--, jamais perdeu atualidade. 

Não, não se trata de um traço perverso do caráter do brasileiro, até porque somos uma mescla de muitas culturas e etnias. Até fins do século 19, nossa população era fruto da presença de três povos: o índio, o europeu ibérico e o africano --e da mestiçagem que daí resultava. Já no final daquele século, novas correntes migratórias aqui aportaram: japoneses, alemães, libaneses, poloneses, italianos etc., mudando o perfil da população. Também esses povos se miscigenaram aos que aqui encontraram, mas os padrões de gestão da coisa pública não mudaram muito. 

O que explicaria isso? Chegou-se até a cogitar que a mestiçagem gerava perversões insanáveis, que explicariam, entre outras coisas, a corrupção brasileira. Como a corrupção é um fenômeno universal e atemporal, a tese não teve curso. Sem pretender simplificar algo tão complexo, arrisco a dizer que a onipresença do Estado, que perpassa as diversas fases históricas do país --e é também uma moléstia planetária--, é uma das razões fundamentais do desconcerto brasileiro.

Quanto mais Estado, menor governabilidade --e, em decorrência, maior chance para a corrupção. O Estado, quando extrapola as funções para as quais foi criado, torna-se um agente da corrupção. É como o dito popular sobre a esperteza: quando é muita, vira bicho e come o dono.

O Estado brasileiro agigantou-se nos últimos tempos. Já se havia hipertrofiado ao tempo do presidente Geisel, que criou mais estatais que a soma de seus antecessores. Houve, na sequência da redemocratização, pálidas iniciativas reformistas, visando a reduzi-lo e a enquadrá-lo nas suas efetivas atribuições. Mas o vício de origem, citado por Alceu Amoroso Lima, parece falar mais alto. Privatização, ignorada por seus detratores, tornou-se palavrão e arma de intimidação eleitoral. 

O lema fascista e comunista --"tudo pelo Estado, tudo para o Estado e nada fora do Estado"-- é uma realidade cultural brasileira desde os tempos do Onça, contaminando a economia, o empreendedorismo e a moral no trato da coisa pública. Que adianta combater os mensalões sem ir à origem da moléstia? Combate-se o sintoma, e não a doença, que, no caso brasileiro, chama-se Estado hipertrofiado. É como enxugar o chão com a torneira aberta. 

A corrupção só será sanada (na medida em que isso é possível) quando o país promover aquela que é a prioridade das prioridades: a reforma efetiva do Estado. Aí, sim, começaremos a enfrentar de fato as moléstias que decorrem de seu gigantismo: corrupção, burocracia, crise federativa, engessamento da economia, bagunça tributária e, sobretudo, o abismo entre povo e nação.

1 de jan. de 2013

A manteiga da Nova Zelândia em Cuba


por Yoani Sánchez

O frango vem do Canadá, o sal mostra na etiqueta que vem do Chile, o molho tropical é “made in USA” e o açúcar do Brasil. O leite tem uma vaquinha holandesa pintada no tetra pack, o sumo de limão foi processado no México e os hamburguers avisam em letras grandes que são “Cem por cento carne argentina”. Na embalagem do queijo se esclarece que é gouda proveniente de terras alemãs, nas bolachas uns caracteres chineses explicam sua origem enquanto o arroz foi cultivado nos alagados vietnamitas. Estamos nos afogando no estrangeiro!
Por isso perguntei a uma amiga economista o porquê da manteiga da loja do nosso bairro viajar da Nova Zelândia. Por que não podemos produzir um alimento tão básico? – e insisti – Tampouco há um lugar mais próximo de onde trazê-lo? A jovem graduada pela Universidade de Havana respondeu-me com a mesma frase que intitula um programa humorístico: “Deixa que eu te conte…” Então me contou que ao terminar seus estudos puseram-na para cumprir o Serviço Social numa dependência do Ministério da Indústria Alimentícia. Imediatamente notou as vultosas faturas de fretes pagos para transportar mercadorias de países distantes. Levou ao diretor uma lista com algumas delas, entre as quais constava a de leite em pó comprado num ponto longínquo da Oceania. O homem limpou a garganta e lhe esclareceu. “Nem te metas nisso, pois se diz que essa fábrica de lá é de propriedade de um hierarca cubano”.
Não me surpreenderia que indivíduos bem posicionados na rede de poder desta Ilha possuam indústrias no exterior sob nomes de fachada. Igualmente inaceitável seria que, além disso, privilegiassem a importação dessas empresas ao invés de outras mais próximas e mais baratas. Ou seja, desse modo parte do dinheiro dos cofres nacionais terminará nos bolsos de uns poucos – também nativos – que seriam também os que decidem de quem comprar. Como se um hábil ilusionista passasse, sem que se visse, um maço de cartas da sua mão esquerda para sua mão direita. Talvez este seja um dos motivos do porque certas marcas – muito ruins e caras – exibem-se nas prateleiras das nossas lojas. O velho truque de “comprar de si mesmo” estaria causando gastos excessivos ao país e asfixiando produtos nacionais de melhor qualidade e menor preço.
Já sei leitor, tudo isto pode ser fruto de uma grande paranóia da minha amiga… E também da minha parte; porém tenho a esperança de que um dia se saberá, tudo se saberá.

Massacre de Connecticut: depoimento de uma brasileira que mora nos Estados Unidos e tem um filho na escola.


Tatiana Valadares Gonçalves
Sarasota, FL - USA

Uma coisa que me chateou bastante ontem, foi que diante a notícia tão triste do massacre das crianças em Connecticut, ao invés de meditar, parar o coração um momento para pensar e mentalizar algo bom para quem sofria com a tragédia, muita gente do meu círculo de amizades resolveu bombardear minha caixa de mensagens, inclusive me telefonar, com comentários inúteis a sobre os EUA, a segurança, o povo, etc.
Registro aqui minha decepção com cada um que se achou no direito de julgar e generalizar o fato.

Agora me espanta que isso tenha vindo de brasileiros, o Brasil é um país tão seguro e organizado, né ?

Eu fui obrigada a escutar que os americanos são todos doentes mentais, que aqui é uma fábrica de malucos e o que estou fazendo aqui num lugar que não tem segurança. Sabe qual é a diferença entre isso aqui  e o que os brasileiros têm ai ? Ordem.

Aqui tem muito maluco sim, tanto quanto aí, só que aqui o maluco se suicida depois da cagada, por que ele sabe que a JUSTIÇA será feita. Ele sabe o lhe espera. No Brasil, a gente sabe o que acontece com o maluco. Nada! SAIBAM VOCÊS, AS ESTATÍSTICAS DOS HOMICÍDIOS AQUI É DE 8 POR CADA 100.000 HABITANTES. AÍ NO BRASIL É DE 70 POR 100.000. AQUI É MESMO MUITO VIOLENTO.

Daqui 7 anos no máximo, dois malucos que jogaram a filha de 5 anos pela janela estarão fazendo compras no Shopping Center Norte. Sabe quando isso aconteceria aqui? Nunca. Daqui 5 anos, a maluca Ritchtofen estará passeando no Parque do Ibirapuera com o cachorro e tirando fotos no Instagram.

Doentes mentais, revoltados, loucos e psicopatas não existem somente aqui ou aí no Brasil, eles estão no mundo, não há como evitá-los. Mas eu prefiro viver em um lugar onde existe um simples diferença – Cumprimento da Lei.

Por isso me espanta tanto a reação de alguns brasileiros; filhos coniventes de um país que elege ladrões, sai na rua pelado no carnaval cantando a própria desgraça e termina tudo em pizza.

Sabe qual é o GRANDE problema do Brasil? O povo só olha pra fora. Quantas vezes ouvi piadas que americano não conhece o mapa e não sabe diferença entre Brasil e Argentina. Palmas para eles ! Por que perdem o tempo deles conhecendo detalhadamente o seu próprio mapa. Quando eles sentam no assento do metrô, no fim do dia para ir para casa, estão lendo noticias internas e se preocupando em fazer algo pela escola do seu bairro. O brasileiro não lê no metrô, também não senta, porque vive uma realidade miserável de falta de tudo, falta espaço, falta trem, falta ônibus, falta asfalto e sobra assunto descartável. Vai todo mundo no estilo sardinha em lata falando da novela das 8. Ou da tragédia do país alheio.

Todo mundo feliz por que ganhou o 13º salario, vão torrar tudo no mesmo dia comprando coisas caríssimas, pagando um imposto gigante, para se exibir para a vizinha no elevador.

Natal ? Ah, no Natal o brasileiro gosta muito dos americanos, por que os copia em tudo! Isso é ridículo! Arranque esse monte de roupa do Papai Noel, por que NÃO vai nevar no Tocantins.

E os EUA que não têm segurança e nada, lá só se come hamburguer e pizza, mas vamos lá pra Miami fazer as compras de Natal !!! Nessa hora todo mundo ama o bando de malucos daqui. Assim é o Natal Brasileiro, todo mundo comprando em 5 vezes no cartão, que nem louco algo  que NÃO precisa e nem pode pagar. Na noite do Natal está todo mundo louco para passar logo a meia noite, largar a família pra trás e pegar a primeira estrada com trânsito infernal para ter 4 dias de sossego em algum lugar tão perigoso quanto o próprio bairro  (seja qual for) . Aqui, a gente escuta musica de Natal dezembro inteiro, no carro, em casa... aqui a gente ainda manda cartões pelo correio. Aqui a gente leva o filho para tirar foto com Papai Noel, de graça. Fazemos listas de tudo que devemos agradecer no ano. Repetimos a frase Feliz Natal 30 vezes por dia, para o caixa do super mercado, para o cara do correio, para o vizinho, no trânsito para a pessoa do carro ao lado. Aqui se acende uma vela na janela durante 25 dias para lembrar aqueles que partiram e não estarão conosco neste Natal. A gente come cereal como forma de agradecer a colheita do ano todo. O nosso Papai Noel está vestido adequadamente para a estação. Ou seja, aqui se vive com o que se tem e o que se é. No Brasil se vive com o que os OUTROS têm.

Estou tão chateada assim, porque nunca ouvi uma piada sequer de americano algum com relação ao Brasil. Muito pelo contrario, mesmo lendo notícias ruins daí, nunca alguém aqui se atreveu a fazer qualquer tipo de comentário que não fosse um elogio ao meu país. E o interessante é que grande parte de quem faz as piadas contra americanos, NUNCA colocou os pés aqui. Pior, julgam algo sem conhecer, que atitude ignorante!

Portanto, quando quiserem apontar o dedo , apontem mas não na minha frente, pois se vc tem o direito de expressar sua opinião a respeito do que bem entender, eu tenho o direito de me sentir ofendida e expressar a minha opinião sobre você. Eu sou Brasileira com letra maiúscula, mas a minha ‘Casa’ é aqui e o meu coração por opção está aqui e não vou me permitir mais escutar tais ofensas. Tenho orgulho de viver e criar meu filho em uma fábrica de possíveis malucos, ao invés de criá-lo dentro da certeza de habitar uma fábrica de corruptos, vagabundos e cegos por opção.


Sintonizado por EJB.