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30 de out. de 2012

Brado espetacular


Mais a petralhada grita, mais animado eu me sinto para a batalha da razão!

Já me referi aqui ao enxame de vespas assassinas que tentaram invadir o blog: “Aí, hein? E agora?” E agora o quê? Agora eu vou continuar a escrever. E, como se pode notar, em quantidade até superior ao que vinha fazendo porque eventos assim me estimulam. Quando algo me desagrada — como é o caso da eleição de Fernando Haddad e da pletora de análises cretinas que li, ouvi e a que assisti —, sou mais produtivo do que quando me agrada. Aliás, acho esse um bom princípio, que faz a humanidade avançar. Há sempre um quê de ocioso, de improdutivo e até de reacionário nas celebrações, não é? O seu extremo negativo é o saque, a depredação, a razia. O seu extremo positivo é a orgia dionisíaca. Em qualquer dos dois casos, falta a razão severa que contém os apetites e o saudável pessimismo que conduz à prudência. A vida sem contratempos seria um gozo permanente e, intuo, aborrecido. Acho que as virtudes de uma existência assim se esgotam quando abandonamos o seio materno. Depois disso, queridos, é só luta renhida.
Escrevo, sim, e escrevo com gosto, na contramão de certos consensos porque não tenho satisfações a prestar àqueles que se pretendem meus juízes, ora bolas! Tampouco me deixo patrulhar pelo sentimento de culpa que os petistas pretendem inculcar nos grandes veículos de comunicação, permanentemente acusados de ter preconceito contra o partido. Intimidados pelo clamor militante, alguns deles resolvem provar, então, que seus detratores estão errados, fazendo-lhes a vontade. Comigo, esse tipo de coisa não funciona porque não reconheço a legitimidade daquele tribunal — e os petralhas, até onde se sabe, não reconhecem a legitimidade do STF, não é mesmo? Eu faço o contrário: provo que eles estão errados atuando contra a sua vontade.
Assim, além de não reconhecer a autoridade daqueles juízes e de não me sentir compelido a provar a minha “inocência”, declaro, adicionalmente, que não alimento preconceito nenhum contra o PT. Eu discordo mesmo é dos conceitos, ora essa! Rejeito é a visão de mundo do partido. Por que não posso fazer as minhas escolhas sem ter de me desculpar por isso? Em que mundo vive essa gente?
Recuso o seu entendimento do que seja Justiça, e os episódios ligados ao mensalão — incluindo a pancadaria promovida pelos fascistoides de José Genoino — deixam claro de maneira eloquente os motivos. Na sua visão de mundo, um tribunal pode se orientar de acordo com a Constituição e com os códigos legais desde que não condene seus partidários. Se o fizer, eles passam a gritar: “Tribunal de exceção!”.
Rejeito o seu modo de disputar eleições, que só entende a linguagem da sujeição dos aliados e da destruição do adversário, que pode passar a ser um amigo no dia seguinte (como ocorre agora com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab) — desde que faça tudo direitinho e que reze segundo a cartilha da hegemonia elaborada pelo partido. Excomungo o seu jeito de entender as alianças políticas. A exemplo de outras legendas, pouco importa a identidade ideológica, de propósitos, de anseios. Não inova nisso. Mas só o petismo tenta transformar esses arreganhos fisiológicos numa categoria política superior: tudo seria feito tendo em vista os mais altos propósitos do Brasil, dos brasileiros e da humanidade. Repilo a sua concepção de democracia, que entende que o partido não tem de servir à sociedade, mas o contrário. Já escrevi aqui: eles querem uma OAB do PT, um sindicalismo do PT, uma economia do PT, uma cultura do PT, uma arte do PT… Execro sua visão autoritária e intolerante, incapaz de conviver com a crítica — de longa tradição da imprensa brasileira que se respeita — e sempre ocupada em buscar mecanismos oblíquos de censura. Abomino o uso descarado que faz o partido dos bens públicos em benefício dos seus e do seu projeto de poder, como se viu outra vez nesta eleição.
Publico na homepage um texto sobre este incrível José Eduardo Cardozo, que dizem, para escândalo do bom senso, ser pré-candidato a uma vaga no Supremo Tribunal Federal. De maneira desabrida, sem limites, sem pejo, sem meios tons, usa episódios de recrudescimento de violência em São Paulo para fazer política partidária. Afirma que o estado vem recusando ajuda federal, o que é mentira, como mentirosas eram as afirmações de Fernando Haddad, que acusava a gestão Kassab de ter se negado a fazer parcerias. Isso valia, claro, até o dia 27… No dia 28, o PT já dava tratos à sua aliança com… Kassab — que já se desenhava nos bastidores.
Política e políticos assim não me servem e não servem ao país — estejam em que partido estiverem, é bom deixar claro! Se o petismo ocupa mais o meu tempo nas críticas, é porque, reitero, só essa turma tenta transformar a sem-vergonhice explícita numa categoria superior de pensamento. O fato de outros deixarem explícito o seu oportunismo não muda a sua qualidade, é evidente; o fato de o PT tentar enobrecê-lo só acrescenta hipocrisia ao que é ruim em si.
Eu me pergunto: que tipo de gente, que tipo de mentalidade, que tipo, em suma, de caráter usa um caso tão grave e tão dramático como a violência para fazer puro proselitismo e para começar a jogar o xadrez da sucessão estadual? Estamos falando de vidas humanas; estamos falando da tranquilidade (ou desassossego) das famílias; estamos falando da vida de milhares de policiais, da de seus filhos, mulheres, mães… Cardozo acha mesmo que tem o que oferecer aos paulistas? Não é pelos jornais que ele deve fazer esse debate. O PT está no poder há 10 anos. Qual é o seu grande programa, afinal, de combate à violência?
É com esse tipo de gente que alguns esperam que eu condescenda? Não há o menor perigo de isso acontecer! E eu critico, sim! Sem culpa, sem trégua, sem pedir desculpas. Para os petistas, o mundo se divide em duas categorias: os que estão com eles e se subordinam a seus desígnios e os inimigos. E eu, definitivamente, não estou com eles porque não me subordino a partido nenhum nem reconheço seus tribunais, eles sim, de exceção!
Eles podem tirar o cavalo da chuva! De onde tirei este texto, posso tirar outros 200 mil, outros 200 milhões, deixando claro por que repudio a sua física e a sua metafísica do poder.
por Reinaldo Azevedo

27 de out. de 2012

O conhecimento é a última morada do destino humano

A frase do título saiu deste post.

O que é o programa de poder do PT?


por Felipe Melo

O Foro de São Paulo tem avançado em praticamente todos os campos em que se dispôs a atuar e, com exceção de algumas incansáveis iniciativas ainda isoladas (e constantemente ignoradas pelos veículos de informação e o público geral), sua própria existência tem passado despercebida.
O Partido dos Trabalhadores governa oficialmente o Brasil desde 2003, quando Lula foi eleito presidente. Em dez anos, nunca antes da história deste país viu-se tanto desmando, tanto desbunde, tanto desbrio, tanto descalabro, tantos desvios de verbas e de caráter. O PT teve a proeza de destronar da vida pública de modo praticamente definitivo todas aquelas características que eram vistas, desde os idos da Grécia clássica, como essenciais para o exercício da política: verdade, hombridade, maturidade, honra e honestidade. Se antes aqueles que se desviavam dessa linha-mestra eram vistos como incidências abjetas na vida política brasileira, hoje o próprio desvio é que se transformou em linha-mestra.
Por mais que se repise essa constatação, há grande resistência por parte de uma multidão (para não dizer manada) de gente bem-intencionada, excessivamente ingênua e facilmente enganável, em admitir que, na última década, o nosso país piorou sob todos os aspectos – político, econômico, social, jurídico e cultural. O PT ainda é diuturnamente tratado como a grande vítima das próprias impropriedades que cometeu, como se os planos meticulosamente traçados para se obter e manter o poder no Brasil fossem ora apenas deslizes cometidos por uma minoria aloprada, ora métodos tortos cujo objetivo era apenas garantir o bem do povo ao se buscar a perpetuação do partido no governo. Há um sem-número de documentos emitidos pelo próprio PT que indica de maneira incontestável o projeto de poder do partido. O radicalismo socialista troglodítico foi substituído por um radicalismo socialista sofisticado, cheio de finesse e com ares de alta intelectualidade, mas o objetivo continua sendo um e o mesmo: enredar a nação em seus tentáculos pegajosos indefinidamente. Esse afã pelo poder não é um "privilégio" apenas do Partido dos Trabalhadores aqui no Brasil: diversos outros partidos, organizações, institutos e que tais, aqui e lá fora, possuem o mesmo objetivo, e, ao contrário do que a insistência extraordinariamente estúpida de um exército de analistas e experts garante, esse objetivo é perseguido de modo muito bem articulado a nível internacional. A própria existência de uma organização como o Foro de São Paulo é, de per si, prova cabal desse fato. Aliás, o próprio documento preparado pelo PT para o XVIII Encontro do Foro de São Paulo, que ocorre em Caracas ao longo dessa semana, é mais uma peça que explicita, naquela típica linguagem melifluamente "progressista e de esquerda", os objetivos do PT. Todas as citações que aqui farei são traduções livres de trechos do documento do partido, que foi divulgado em língua hispânica. O primeiro grande destaque do documento é a defesa da necessidade de se instrumentalizar organizações variadas da sociedade civil para que o PT continue no comando da nação. Nesse sentido, o documento afirma que "o PT terá de dedicar-se com mais empenho a organizar as camadas populares, em particular os trabalhadores assalariados, em sindicatos, movimentos populares urbanos e rurais, associações femininas, movimentos de juventude, instituições desportivas e culturais, e em um sem-número de formas criadas por iniciativa das classes e camadas populares." Quem aponta isso é o próprio presidente nacional do partido, Rui Falcão, que complementa:
Somente com a participação ativa dessas camadas populares, o PT e o governo poderão vencer as resistências que os setores conservadores, na sociedade, no Congresso e inclusive em setores do aparato do Estado, interpõem às reformas indispensáveis ao plano de desenvolvimento econômico e social que façam do Brasil um país verdadeiramente soberano, independente, e com um povo material e culturalmente avançado.
Notem que "PT" e "governo" são utilizados como se fossem a mesma coisa, partes indissociáveis do mesmo organismo. Esse tom é mantido ao longo de todo o documento: o Partido dos Trabalhadores é visto indisfarçavelmente como o único membro legítimo do governo – ou seja, o PT é o governo. Essa visão é acompanhada sempre e em toda parte pela defesa da superioriedade moral do partido, uma vez que ele é o único que pode tornar o Brasil "culturalmente avançado".
O PT – que, à guisa de personagem orwelliana, será doravante denominado apenas por Partido, com maiúscula – não objetiva, entretanto, o governo, e quem lembra isso muito bem é Iole Ilíada, secretária de relações internacionais do Partido. A conquista do governo não garante a conquista do poder – algo que, segundo Gramsci, dependia da correlação de forças (rapporti di forze) entre burguesia e proletariado. O objetivo do Partido no governo seria, portanto, atuar na alteração da correlação de forças, ou seja, "deslocar a burguesia como classe hegemônica e dominante" e "transferir poder (em suas várias formas: político, econômico, cultural etc.) às classes trabalhadoras". O Partido, como já se desconfiava, não está no governo para melhorar a vida da população e trabalhar efetivamente para o desenvolvimento nacional: "vale a pena ser governo quando a esquerda é capaz de usar sua presença como um fator de deslocamento da correlação de forças a favor dos trabalhadores". E Iole é enfática: "Não se trata aqui de pensar em uma alteração da correlação de forças que gradualmente nos conduza do capitalismo ao socialismo, mas em um processo de acumulação de forças que, em algum momento, pode tornar possível a ruptura desejada."
Há um nome que define muito bem a "ruptura desejada" que o Partido tanto almeja: revolução. Não falamos aqui daquela revolução tradicional, com sublevação armada e derramamento de sangue, ao modo das revoluções francesa e russa, mas de revolução cultural, estrutural, gramsciana. Continua Iole:
O reconhecimento dessa falta de transferência efetiva de poder aos trabalhadores é importante porque a presença da esquerda no governo pela via eleitoral, por mais que a queiramos duradoura, pode ser transitória. Isso faz com que seja necessário que as mudanças se convertam em transformações estruturais, de difícil reversão por parte de governos de direita que nos possam suceder. Mais ainda, tal reconhecimento é importante para ampliar a consciência e a capacidade de organização, intervenção social e luta dos trabalhadores, de modo que a acumulação de forças possa apontar para a necessidade de conquistar não apenas o governo, mas também o poder.
Extrapolando o contexto nacional, o partido reafirma em quase todos os parágrafos do documento ao XVIII Encontro do Foro de São Paulo seu compromisso com a integração regional – não de países, não de nações, mas de organizações "progressistas e de esquerda", de modo a formarem uma plataforma comum com engrenagens bem azeitadas que girem na sincronia necessária para tingir de rubro todo o subcontinente. Renato Simões, secretário de movimentos sociais do Partido, explica como isso é visto (e quisto) pelo Partido:
Em sua grande maioria, os partidos progressistas e de esquerda da América Latina se organizam no Foro de São Paulo, cuja influência política vem crescendo, ano após ano, para suas responsabilidades partidárias, seja como membros de governos eleitos, seja como as principais forças de oposição a governos neoliberais. [...] Em vários países, os movimentos sociais buscam avançar em sua organização, superando fragmentações e pulverizações marcadamente impostas pela hegemonia neoliberal. Eles buscam eixos políticos mais nítidos e unificados para incidir na correlação de forças na sociedade e frente aos governos nacionais. No Brasil, há um importante esforço no sentido de consolidar a CMS – Coordenação dos Movimentos Sociais, que hoje integra os movimentos sociais mais representativos do país. [...] A recente instalação de uma Comissão de Movimentos Sociais junto ao Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo mostra que estamos atentos aos desafios de consolidar estruturas próprias para o diálogo partidário com os governos e movimentos sociais. Como disse a companheira Dilma Rousseff em seu discurso ao Diretório Nacional do PT, antes de assumir a presidência da República, em um terceiro período de governo é essencial aceitar as relações entre o Partido, o Governo e os Movimentos Sociais, trincheiras de uma mesma luta, espaços estratégicos para um mesmo projeto, essencial para a transformação de nossa sociedade.
Uma vez mais, tocamos aqui na simbiose orgânica necessária para a conquista do poder no Partido e sua manutenção: comandar o governo e cooptar os movimentos sociais. O que se busca é a pura instrumentalização ideológica de todos os meios disponíveis para que o Partido tenha controle total e irrestrito sobre a nação. Essa conclusão não é fruto de um delírio que brota de uma mente conservadora (e, portanto, patologicamente perturbada), mas apenas de simples interpretação de texto: é isso o que está escrito, e de modo claro e cristalino. No entanto, a conquista da hegemonia, dentro da visão gramsciana que permeia o Partido integralmente, só se pode dar de modo seguro e duradouro através da atuação de intelectuais orgânicos – "intelectuais que, além de especialistas na sua profissão, que os vincula profundamente ao modo de produção do seu tempo, elaboram uma concepção ético-política que os habilita a exercer funções culturais, educativas e organizativas para assegurar a hegemonia social e o domínio estatal da classe que representam (Gramsci, 1975, p. 1.518). Conscientes de seus vínculos de classe, manifestam sua atividade intelectual de diversas formas: no trabalho, como técnicos e especialistas dos conhecimentos mais avançados; no interior da sociedade civil, para construir o consenso em torno do projeto da classe que defendem; na sociedade política, para garantir as funções jurídico-administrativas e a manutenção do poder do seu grupo social" (SEMERARO, 2006).
Como garantir, então, que haja tais intelectuais orgânicos que, ao longo das décadas, atuem para a conquista e a manutenção do poder por parte do Foro de São Paulo? Carlos Henrique Árabe, secretário de formação do Partido, relembra que, durante o XV Encontro do Foro de São Paulo, no México, ocorreu a primeira reunião de escolas e fundações do FSP, que apontou para a necessidade de "abordagem, vinculação, intercâmbio e cooperação entre as fundações, universidades, escolas de formação e outras entidades educacionais e de treinamento dos partidos integrantes do Foro de São Paulo, nas áreas de investigação, formação e divulgação." O objetivo central eleito pelas organizações que participaram dessa reunião foi a criação da Escola Latinoamericana de Formação Política, uma universidade internacional do Foro de São Paulo para a formação de quadros partidários, lideranças de ONGS e movimentos sociais e, de modo particularmente especial, intelectuais orgânicos. O Foro de São Paulo tem avançado em praticamente todos os campos em que se dispôs a atuar e, com exceção de algumas incansáveis iniciativas ainda isoladas (e constantemente ignoradas pelos veículos de informação e o público geral), sua própria existência tem passado despercebida. O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, um dos artífices do documento do Partido para o encontro do FSP, faz questão de lembrar: "As mudanças profundas que vêm experimentando nossos países há anos, sobretudo onde as esquerdas estão no governo, são resultado de dinâmicas internas, evidentemente. No entanto, elas também são consequências de um processo político coletivo que teve no Foro um lugar privilegiado."
A UNASUL (União das Nações Sul-Americanas), a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), a Telesur, a ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), todas essas iniciativas foram gestadas no ventre do Foro de São Paulo. Todas as ações desses grupos são unívocas e convergem para o mesmo objetivo: o controle total do subcontinente americano por uma verdadeira camarilha de genocidas em potencial. Quando se atam os elos soltos, que aparentemente nada tem a ver uns com os outros, vê-se com clareza quão bem se encaixam e como a corrente que formam é coesa e aprumada. E é justamente a ausência de qualquer esforço em larga escala para divulgar os planos do Foro de São Paulo que faz do (ingrato) trabalho daqueles que se propõem a monitorar os passos desse grupo algo tão precioso e necessário. E é um trabalho que precisa melhorar: devemos aumentar a capilaridade do fluxo de informações sobre o Foro de São Paulo e estimular outras iniciativas (dentro e fora do Brasil) que objetivem ao desmascaramento do grupo.
Já escrevi em outros textos e volto a afirmar: estamos em guerra. Cedo ou tarde, ela baterá com força à nossa porta, e, aí, já não poderemos fazer mais nada.

26 de out. de 2012

A atualidade de Nelson Rodrigues (1912 - 1980)


"Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da onipotência numérica. E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, limitava-se a babar na gra...vata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente etc. Houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas. Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: — ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina".

24 de out. de 2012

Levantando o tapete e mostrando o lixo


por REYNALDO ROCHA

“Já fui julgado pelas urnas. A vitória de Dilma Rousseff foi um julgamento extraordinário”. (Luís Ignácio).

Para quem confunde ministro do Supremo com supremo ministro da Casa Vil, essa confusão conceitual não espanta.
Aliás, na Era da Mediocridade nada mais deveria nos espantar. Exceto não termos previsto isto antes.
Mas o talento ficcional sempre será menor que a estupidez cavalar de quem produz asneiras como quem respira. Ares poluídos.
Assim deixamos de antever o que só o teatro do absurdo pode contemplar.
O que se nota – sem ficção – é que Lula está em campanha para 2014. Lula é o candidato escolhido por Lula.
É fácil saber o que pretende. Uma “absolvição” (como a imaginada por Fernando Collor quando eleito senador; estão cada dia mais parecidos) que o leve a completar o serviço inconcluso.
O controle social da mídia é um exemplo. Dilma refugou o papel de mãe desse absurdo que anunciaria ao mundo inteiro a chegada da ditadura clepto-sindicalista-amoral.
Notem que o PT ─ que sempre considerou Dilma mera passageira de ocasião, sem influência no partido ─ já avisou: após as eleições voltará a colocar o tema em debate! Ou melhor, em uníssonos zurros de assembléias partidárias.
Alguma vez (uma única que seja!) os valorosos e destemidos dirigentes do PT agiram sem o consentimento de Lula? São hienas obedientes.
Obviamente – e não é ficção! –, Lula continua a ordenar que a censura seja implantada.
Qual será a reforma do Poder Judiciário proposta pelo imperador de hospício? A demissão ad nutum dos ministros? No popular, na tora? Ou a escolha dos juízes por um Conselho Popular e Democrático que reuniria os advogados a serviço de movimentos populares, sindicatos, ONGs e, claro, do governo?
Lula admitiu que foi condenado. Existem certezas materiais e provas testemunhais, além do julgamento do STF. Seriam somente 43 milhões de brasileiros a condená-lo?
Lula é, acima de tudo, covarde. A palavra é pesada, cruel. Mas verdadeira.
Vendeu a própria honra aos collors e sarneys da vida. Aliou-se a quem prometia erradicar. Manteve a MESMA política econômica, sem jamais admitir tal evidência. Privatizou recorrendo a truques semânticos para não ter de explicar a súbita mudança. Escondeu-se atrás de Dirceus e Genoínos. Usou Delúbio como um novo menino do MEP. Pediu desculpas olhando para o teto. Ao declarar-se traído, colocou na janela o traseiro dos outros.
E agora se esconde na idolatria que deixou de ser política para ser farsesca.
Um covarde em tamanho gigante. Vale-se de terceiros para fazer o que a covardia determina. Elege adversários e não os enfrenta só. Precisa da máquina, do partido ou do governo. Para ele, é a mesma coisa.
Prefere dar entrevistas em Buenos Aires, Caracas ou Havana a enfrentar aqui no Brasil jornalistas que prezam a profissão. No exterior, as informações são menos numerosas. As indecências são desconhecidas.
A promessa de conceder entrevistas depois de deixar a Presidência foi só mais um gesto covarde. Por que não recebeu o Augusto Nunes? Por que não debateu com FHC?
Covardia em grau extremo, vizinha do pânico histérico.
Assim, de declaração em declaração, vai-se montando o mosaico do verdadeiro fujão.
Que agora sabemos, sabe-se criminoso. E confessa.
Nem era necessário. Nós sabíamos. Sempre soubemos.

23 de out. de 2012

Camel - Spirit of the Water

A condenação do PT


por Marco Antônio Villa

(...) O único projeto da aristocracia petista - conservadora, oportunista e reacionária - é de se perpetuar no poder. Para isso precisa contar com uma sociedade civil amorfa, invertebrada. Não é acidental que passaram a falar em controle social da imprensa e... do Judiciário. Sabem que a imprensa e o Judiciário acabaram se tornando, mesmo sem o querer, nos maiores obstáculos à ditadura de novo tipo que almejam criar, dada ausência de uma oposição político-partidária. A estratégia petista conta com o apoio do que há de pior no Brasil. É uma associação entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e oportunistas de todos os tipos. O que os une é o desejo de saquear o Estado. O PT acabou virando o instrumento de uma burguesia predatória, que sobrevive graças às benesses do Estado. De uma burguesia corrupta que, no fundo, odeia o capitalismo e a concorrência. E que encontrou no partido - depois de um século de desencontros, namorando os militares e setores políticos ultraconservadores - o melhor instrumento para a manutenção e expansão dos seus interesses. Não deram nenhum passo atrás na defesa dos seus interesses de classe. Ficaram onde sempre estiveram. Quem se movimentou em direção a eles foi o PT. Vivemos uma quadra muito difícil. Remar contra a corrente não é tarefa das mais fáceis. As hordas governistas estão sempre prontas para calar seus adversários. Mas as decisões do STF dão um alento, uma esperança, de que é possível imaginar uma república em que os valores predominantes não sejam o da malandragem e da corrupção, onde o desrespeito à coisa pública é uma espécie de lema governamental e a mala recheada de dinheiro roubado do Erário tenha se transformado em símbolo nacional.

19 de out. de 2012

O recorrente apelo do messianismo

Não adianta.
Do alto de uma montanha de 2,5 milhões de cadáveres, um quinto da então população do Camboja, o moscovita Israel Shamir resolve agora excretar um artigo intitulado Pol Pot Revisited, do qual eu e o Google traduzimos os trechos abaixo:

(...) Surpreendentemente, os cambojanos não têm más recordações desse período. Isto é uma descoberta completamente surpreendente para um visitante freqüente. Eu não vim para reconstruir a "verdade", qualquer que ela seja, mas sim para descobrir o que é a memória coletiva dos cambojanos, como eles percebem os eventos do final do século 20, que narrativa foi filtrada pelo passar do tempo. A onipotente máquina de versões do Ocidente tem incorporado em nossa consciência a imagem de um sangrento Khmer Vermelho comunista canibalizando seu próprio povo em campos de extermínio e governado por um Pol Pot demencial, paradigma do déspota cruel.


O Pol Pot que os cambojanos lembram não era um tirano, mas um grande patriota e nacionalista, um amante da cultura nativa e da maneira natural de viver. Ele foi criado nos círculos reais de um palácio, sua tia era uma concubina do rei anterior. Estudou em Paris, mas em vez de ganhar dinheiro e investir numa carreira, voltou para casa e passou alguns anos morando com tribos da floresta para aprender com os camponeses. Ele sentiu compaixão pelas pessoas comuns das aldeias que eram explorados diariamente pelo povo da cidade, os parasitas compradores. Ele construiu um exército para defender o campo a partir desses ladrões de força de trabalho. Pol Pot, um homem monacal de necessidades simples, não buscava a fama, riqueza ou poder para si mesmo. Ele tinha uma grande ambição: terminar com o falido capitalismo colonial no Camboja, o retorno às tradições do campo, e de lá, construir um novo país a partir do zero. (...)

Sua visão era muito diferente da soviética. Os soviéticos construíram sua indústria por hemorragias do campesinato; Pol Pot queria reconstruir o campo primeiro, e só depois construir indústria para atender às necessidades dos camponeses. Ele considerava os moradores da cidade com desprezo, eles não faziam nada de útil, em sua opinião. Muitos deles estavam ligados a agiotas, uma característica distintiva do Camboja pós-colonial Camboja, outros ajudavam as empresas estrangeiras a roubar às pessoas a sua riqueza. Sendo fortemente nacionalista, Pol Pot estava desconfiado das minorias vietnamita e chinesa. Mas o que ele mais odiava era a cobiça, a ganância, o desejo de possuir coisas. São Francisco e Leo Tolstoy o teriam compreendido. (...)

Falamos muito sobre os males cometidos por regimes futuristas, e muito pouco sobre os males dos governantes gananciosos. Não é frequente nos lembrarmos da Bengala famélica, do holocausto de Hiroshima, da tragédia do Vietnã, ou até mesmo de Sabra e Shatila. A introdução do capitalismo na Rússia matou mais pessoas do que a introdução do socialismo, mas quem o sabe?

Agora podemos cautelosamente reavaliar as tentativas corajosas para chegar ao socialismo em vários países. Eles foram feitas sob codições severas e adversas, sob a ameaça de intervenção, face a uma propaganda hostil. Mas vamos lembrar: se o socialismo fracassou, o mesmo se deu com o capitalismo. Se o comunismo foi acompanhado pela perda de vidas, assim foi e é o capitalismo. Mas com o capitalismo, não temos um futuro que vale a pena, enquanto o socialismo ainda oferece esperança para nós e nossos filhos.

15 de out. de 2012

Mensalão: STF já condenou corruptos, faça sua parte

se derem sumiço no vídeo acima, veja-o em http://youtu.be/srjrHFm57qM

Os com-moral

por Mary Zaidan
Derrotado no primeiro turno por Paulo Maluf, por 32,2% contra 22,9%, e com apenas 70 mil votos de frente sobre a terceira colocada Marta Suplicy, em 1998, Mario Covas virou o jogo e se reelegeu a partir de um mote único: moral. Conseguiu em pouco mais de 20 dias mostrar que os fins não justificam os meios, que o “rouba, mas faz” não é bordão para eleitor algum se orgulhar. Dividiu a eleição em os com e os sem-moral. A vitória de Covas desmente com fatos – algo que petistas não gostam muito – a declaração do ministro Gilberto Carvalho de que nunca se deu bem quem aposta no uso de temas morais. Há 14 anos os tempos eram outros. Ainda que a contragosto de José Dirceu – que convocara a militância para derrotar Covas “nas urnas e nas ruas” – o governador recebeu o apoio de Marta e do PT, em nome de manter São Paulo longe da roubalheira. Hoje, o PT de Lula posa sorridente nos jardins da mansão de Maluf para receber o apoio de quem Marta taxou como nefasto. Alia-se ao que há de mais retrógado na política - sarneys, collors e renans -, e ainda tem o desplante de colocar o conservadorismo na conta dos adversários. Chama a Suprema Corte do país de tribunal de exceção. Oito dos 10 ministros do STF foram indicados por Lula e Dilma. E, certamente, o PT considera ingratidão que seis deles tenham acatado a denúncia de Roberto Gurgel, procurador-geral também nomeado por Lula e reconduzido por Dilma. Pior. O PT reedita, de um jeito moderninho e com ares de nobreza, o jargão eternizado para Adhemar de Barros e plagiado para Maluf. “A população tem sabedoria para entender que o que vale é a prática de um projeto que está mudando o Brasil”, disse Carvalho ao explicar por que “não é inteligente” usar o mensalão na campanha eleitoral. Expõe, sem constrangimento, o raciocínio que norteou a voracidade com que o partido abocanhou o Estado. Os crimes não têm a menor importância. Foram cometidos em nome de um projeto, em nome do que o PT considera ser melhor para o povo. Imoral? E daí? Safo, o ministro não quer é ver campanhas a mostrar os responsáveis por corrupção, peculato, uso de dinheiro público para comprar parlamentares, desrespeitando o eleitor. Assim como já vem fazendo ao demonizar as transmissões ao vivo do julgamento, ao desacatar o STF e culpar a imprensa pelas condenações de seus ícones, o PT fará de tudo para o eleitor ignorar a gravidade dos atos de seu governo. Quer manter o tema distante do povo. Apostam na ignorância. Um trunfo que deixaria qualquer um envergonhado. Mas nunca o PT, que já mostrou que faz qualquer coisa para vencer. Como diz Carvalho, vale tudo.

14 de out. de 2012

Rumpelstiltskin


por Yoanni Sanchez, presa em Cuba


Ainda levo na pele e bem dentro das fossas nasais o suor daquelas três mulheres que me enfiaram num carro da polícia. Grandes, corpulentas, implacáveis, levaram-me até aquele quarto onde não havia janelas e o ventilador desfeito apenas jogava frescor até elas. Uma me olhava com especial ironia. Na melhor hipótese meu rosto lhe recordava alguém do passado: uma adversária na escola, uma mãe despótica ou uma amante perdida. Não sei. O que lembro é que, na tarde de 5 de outubro, seu olhar queria me destruir. Foi ela que apalpou sob minha saia com grande prazer, enquanto outras duas uniformizadas me agarravam para cumprirem a “exigência”. Mais do que buscar algum objeto escondido, essa busca perseguia o objetivo de me deixar com uma sensação de violação, de impotência e de estupro.
A cada seis horas trocavam minhas guardiãs. No turno da meia noite mostravam-se menos rígidas, porém eu me encerrei num mutismo e nunca respondi as suas perguntas. Fugi de mim mesma. Optei por dizer a mim mesma: “tiraram-me tudo, até o grampo de cabelo, porém – revistadores ridículos – não puderam tomar meu mundo interior”. Desse modo que decidi me refugiar, durante as longas horas de uma detenção ilegal, no único que possuía: minhas lembranças. O aposento queria parecer limpo e ordenado, porém cada coisa tinha sua porção de sujeira ou ruptura. O chão de placas de granito claro estava coberto por uma boa dose de limo acumulado. Fiquei olhando as figuras formadas pelas pedrinhas fundidas em cada azulejo e nas manchas de sujeira.
Lá surgia o magro semblante de Quixote, enquanto em cada canto consegui ver o frágil perfil do Bobo de Abela. Uns olhos oblíquos formados pela argamassa e as pedrinhas se pareciam, incrivelmente, aos da protagonista do filme Avatar.  Eu ria e minhas vigilantes constantes começavam a acreditar que a minha negativa de provar alimentos ou água estava literalmente fritando o cérebro. Observei no granito irregular o Corcunda de Notre Dame e a figura esbelta de Gandalf, com báculo e tudo. Porém sobre todas aquelas formas que brotavam de tão tosco pavimento havia uma – mais intensa – que parecia brincar e se rir frente aos meus olhos. Talvez fosse o efeito da sede ou fome, a verdade é que não sei. Um anão de barba comprida e olhar cínico gracejava de maneira astuciosa.
Era Rumpelstiltskin, o protagonista de um conto infantil onde a rainha é obrigada a adivinhar seu nome complicado, pois do contrário deveria entregar ao anão despótico sua mais apreciada posse: seu próprio filho. O que aquele personagem fazia no meio da minha detenção temporária? Por que o via por cima de tantas outras referências visuais que acumulei na minha vida? Intuí a resposta imediatamente. “És Rumpelstiltskin, disse-lhe em voz alta e as minhas carcereiras me olharam preocupadas. “És Rumpelstiltskin – repeti – e sei como te chamas”. “És como as ditaduras que uma vez que alguém começa a chamá-las pelo seu nome, é como se começasse a destruí-las”.

Faixa de Gaza


Cena da ocupação do conjunto de favelas conhecido como "Faixa de Gaza", no bairro de Manguinhos, Rio de Janeiro.
(clique na foto para ampliar)

Camel - Live in Concert Hammersmith Odeon

Stationary Traveller


Long Goodbyes


Lady Fantasy


"É como voto, Sr. Presidente"


13 de out. de 2012

O nome da pátria

por Demétrio Magnoli

Dias antes das eleições, Hugo Chávez dirigiu-se a uma multidão com as seguintes palavras: "Algumas pessoas podem estar insatisfeitas por falhas de nosso governo, porque não consertaram a sua rua, não chegou a luz, falta água, não têm emprego, não receberam a casa. Mas o que está em jogo no 7 de outubro é maior que a eficiência na gestão do governo, camarada. Estamos jogando a vida da pátria." Chávez identificou a pátria a si mesmo e interpretou a eleição como uma guerra patriótica. É por isso que esta pode ter sido a derradeira eleição livre na Venezuela.

Na noite do 7 de outubro, o opositor Henrique Capriles reconheceu o triunfo chavista enfatizando que o derrotado não foi o povo: "Aqui, quem não obteve a vitória fui eu. Para saber ganhar, é preciso saber perder. Acato e respeito a decisão do povo." Política é, antes de tudo, linguagem. Capriles, ao contrário de Chávez, usou a linguagem do pluralismo.

Eleições não são guerras. São disputas entre partidos que representam correntes de opinião diferentes, mas igualmente legítimas. Nelas, a pátria não está em jogo. A linguagem do candidato evidencia que, enfim, construiu-se uma oposição democrática ao chavismo. Talvez seja muito tarde.

"Ninguém chegou tão facilmente ao poder como Chávez — e, por isso, sua revolução não tem epopeia", disse um analista do chavismo. O caudilho assumiu o poder, 14 anos atrás, numa eleição emoldurada pelo colapso interno da democracia oligárquica venezuelana. A epopeia acontecera uma década antes, e sem a participação de Chávez, na forma do Caracazo, o levante do povo de Caracas contra o governo de Carlos Andrés Perez. A "revolução bolivariana" é uma sucessão de iniciativas oriundas de cima, sob estrito controle do presidente que se imagina o pseudônimo da pátria. A linguagem chavista tem um discernível tom farsesco, pois precisa fabricar uma epopeia por meio, exclusivamente, de metáforas.

Chávez não triunfou porque o povo acredita que ele é Simón Bolívar. A vitória eleitoral de domingo deve-se à memória da injustiça, aos preços do petróleo e à força do Estado. Os pobres não esqueceram a longa era de governos oligárquicos que operavam como agentes da apropriação da riqueza nacional por uma elite orgulhosa e avarenta.

Tracionado pelas cotações do barril de petróleo, o PIB do país cresce à taxa anual de 5%, proporcionando recursos para as políticas distributivistas da "revolução bolivariana". As eleições foram livres, mas não justas: o regime chavista manda no Judiciário, controla a comissão eleitoral e utiliza os principais meios de comunicação como ferramenta partidária. Capriles escalava uma montanha alta demais.

A Venezuela já não é uma democracia, mas ainda não é uma ditadura. Chávez usa os instrumentos da democracia para manufaturar uma tirania. Contudo, até hoje, extraiu do voto majoritário a legitimidade de seu regime. O chavismo construiu seu poder por meio de eleições e plebiscitos Nas democracias, eleições servem para o exercício da alternância. Na "revolução bolivariana", funcionam como alavancas de mobilização popular em torno da figura do caudilho que simbolizaria a pátria. Há indícios, porém, do esgotamento da era eleitoral.

No discurso de domingo, Capriles dirigiu-se aos "setores radicais" da oposição, "que queiram se tornar criativos", recordando-lhes os "grandes danos ao país" causados pelos radicalismos. A referência era à greve da PDVSA e ao frustrado golpe de estado de 2002, ao locaute patronal de 2002-2003, ao boicote oposicionista das eleições parlamentares de 2005.

A oposição organizada ao redor de sua candidatura completa a ruptura com a elite política degenerada pré-chavista. No cenário de declínio da "revolução bolivariana", que se revela incapaz de oferecer "luz", "água", "emprego" e "casa", as urnas transformam-se em terreno demasiado perigoso para o chavismo.

"Espero que um projeto que já tem 14 anos entenda que mais da metade do país não está de acordo", disse Capriles na hora da derrota, apontando para a soma dos eleitores da oposição com o contingente dos ni-ni, que preferiram a abstenção.

A expectativa do candidato choca-se com a interpretação oficial que traduz a concorrência eleitoral como uma guerra patriótica. Desde o pleito parlamentar de 2010, quando os votos oposicionistas superaram os do partido de Chávez, intensificou-se a criação de estruturas paralelas de "poder popular".

Os conselhos comunais, em número já superior a 20 mil, são controlados por militantes do PSUV, o partido chavista, e financiados por bilhões de dólares transferidos do orçamento nacional. O "socialismo do século XXI" parece-se cada vez mais com o "socialismo real" do século passado.

A alma do chavismo repousa na figura indispensável do caudilho, o que explica a obsessão do regime pelo direito à reeleição ilimitada. De modo geral, os eleitores que lhe deram um novo mandato pouco se importam com as proclamações ideológicas do PSUV e sabem reconhecer a corrupção que grassa, sem freios, na "burguesia bolivariana" (a boliburguesia).

Entretanto, nos barrios das cidades venezuelanas, Chávez é objeto de veneração pois, na história recente do país, ninguém antes se preocupara com os despossuídos. A novidade explosiva é o câncer em recidiva, cujas características permanecem recobertas pelo manto do mistério de Estado.

A doença de Chávez inocula sensações de insegurança e urgência nos altos círculos bolivarianos. Na hipótese de desaparecimento do condottiere, o chavismo provavelmente se fragmentaria em claques políticas irreconciliáveis — e, de qualquer forma, é quase impossível imaginar um presumível sucessor capaz de passar pelo teste das urnas. Do ponto de vista da "revolução bolivariana", uma saída tentadora para o impasse é a "cubanização" da Venezuela. Desse modo, nunca mais se jogaria "a vida da pátria" na roleta das eleições livres.

Os marginais do poder

por Marco Antônio Villa


Vivemos um tempo curioso, estranho. A refundação da República está ocorrendo e poucos se estão dando conta deste momento histórico. Momento histórico, sim.

O Supremo Tribunal Federal (STF), simplesmente observando e cumprindo os dispositivos legais, está recolocando a República de pé.

Mariana - símbolo da República Francesa e de tantas outras, e que orna nossos edifícios públicos, assim como nossas moedas - havia sido esquecida, desprezada.

No célebre quadro de Eugène Delacroix, é ela que guia o povo rumo à conquista da liberdade. No Brasil, Mariana acabou se perdendo nos meandros da corrupção.

Viu, desiludida, que estava até perdendo espaço na simbologia republicana, sendo substituída pela mala - a mala recheada de dinheiro furtado do erário.

Na condenação dos mensaleiros e da liderança petista, os votos dos ministros do STF têm a importância dos escritos dos propagandistas da República.

Fica a impressão de que Silva Jardim, Saldanha Marinho, Júlio Ribeiro, Euclides da Cunha, Quintino Bocayuva, entre tantos outros, estão de volta. Como se o Manifesto Republicano de dezembro de 1870 estivesse sendo reescrito, ampliado e devidamente atualizado.

Mas tudo de forma tranquila, sem exaltação ou grandes reuniões.

O ministro Celso de Mello, decano do STF, foi muito feliz quando considerou os mensaleiros marginais do poder. São marginais do poder, sim. Como disse o mesmo ministro, "estamos tratando de macrodelinquência governamental, da utilização abusiva, criminosa, do aparato governamental ou do aparato partidário por seus próprios dirigentes".

E foi completado pelo presidente Carlos Ayres Brito, que definiu a ação do PT como "um projeto de poder quadrienalmente quadruplicado. Projeto de poder de continuísmo seco, raso. Golpe, portanto".

Foram palavras duras, mas precisas. Apontaram com crueza o significado destrutivo da estratégia de um partido que desejava tomar para si o aparelho de Estado de forma golpista, não pelas armas, mas usando o Tesouro como instrumento de convencimento, trocando as balas assassinas pelo dinheiro sujo.

A condenação por corrupção ativa da liderança petista - e por nove vezes - representaria, em qualquer país democrático, uma espécie de dobre de finados. Não há no Ocidente, na História recente, nenhum partido que tenha sido atingido tão duramente como foi o PT.

O núcleo do partido foi considerado golpista, líder de "uma grande organização criminosa que se posiciona à sombra do poder", nas palavras do decano.

E foi severamente condenado pelos ministros.

Mas, como se nada tivesse acontecido, como se o PT tivesse sido absolvido de todas as imputações, a presidente Dilma Rousseff, na quarta-feira, deslocou-se de Brasília a São Paulo, no horário do expediente, para, durante quatro horas, se reunir com Luiz Inácio Lula da Silva, simples cidadão e sem nenhum cargo partidário, tratando das eleições municipais.

O leitor não leu mal. É isso mesmo: durante o horário de trabalho, com toda a estrutura da Presidência da República, ela veio a São Paulo ouvir piedosamente o oráculo de São Bernardo do Campo.

É inacreditável, além de uma cruel ironia, diante das condenações pelo STF do núcleo duro do partido da presidente. Foi uma gigantesca demonstração de desprezo pela decisão da Suprema Corte. E ainda dizem que Dilma é mais "institucional" que Lula...

Com o tempo vão ficando mais nítidas as razões do ex-presidente para pressionar o STF a fim de que não corresse o julgamento. Afinal, ele sabia de todas as tratativas, conhecia detalhadamente o processo de mais de 50 mil páginas sem ter lido uma sequer.

Conhecia porque foi o principal beneficiário de todas aquelas ações. E isso é rotineiramente esquecido. Afinal, o projeto continuísta de poder era para quem permanecer à frente do governo?

A "sofisticada organização criminosa", nas palavras de Roberto Gurgel, o procurador-geral da República, foi criada para beneficiar qual presidente?

Na reunião realizada em Brasília, em 2002, que levou à "compra" do Partido Liberal por R$ 10 milhões, Lula não estava presente?

Estava.

E quando disse - especialmente quando saiu da Presidência - que não existiu o mensalão, que tudo era uma farsa?

E agora, com as decisões e condenações do STF, quem está mentindo?

Lula considera o STF farsante?

Quem é o farsante, ele ou os ministros da Suprema Corte?
Como bem apontou o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, o desprezo pelos valores republicanos chegou a tal ponto que ocorreram reuniões clandestinas no Palácio do Planalto.

Isso mesmo, reuniões clandestinas. Desde que foi proclamada a República, passando pelas sedes do Executivo nacional no Rio de Janeiro (o Palácio do Itamaraty até 1897 e, depois, o Palácio do Catete até 1960), nunca na História deste país, como gosta de dizer o ex-presidente Lula, foram realizadas na sede do governo reuniões desse jaez, por aqueles que entendiam (e entendem) a política motivados "por práticas criminosas perpetradas à sombra do poder", nas felizes, oportunas e tristemente corretas palavras de Celso de Mello.

A presidente da República deveria dar alguma declaração sobre as condenações. Não dá para fingir que nada aconteceu. Afinal, são líderes do seu partido.

José Dirceu, o "chefe da quadrilha", segundo Roberto Gurgel, quando transferiu a chefia da Casa Civil para ela, em 2005, chamou-a de "companheira de armas". Mas o silêncio ensurdecedor de Dilma é até compreensível. Faz parte da "ética" petista.

Triste é a omissão da oposição.

Teme usar o mensalão na campanha eleitoral.

Não consegue associar corrupção ao agravamento das condições de miséria da população mais pobre, como fez o ministro Luiz Fux num de seus votos.

É oposição? 


Os venezuelanos podem votar em qualquer candidato, desde que seja Hugo Chávez



O vídeo mostra como funciona a democracia venezuelana: os eleitores votam vigiados por um fiscal de Hugo Chávez. Quer dizer: todos estão liberados para escolher qualquer candidato, desde que seja o bolívar-de-hospício.

(Mais, aqui)

Síntese Suprema


A capa, como podem ver na reprodução acima, exulta a ação saneadora do Supremo Tribunal Federal (STF) com a condenação do núcleo central da maior armação golpista contra as instituições democráticas brasileiras. Afinal, o mensalão tinha por objetivo conseguir o apoio total do parlamento e, depois, do próprio Judiciário para golpear mortalmente a democracia e implantar uma República Comunista do tipo cubano, em que as eleições são meras pantomimas para legitimar a ditadura.

(Prossegue, aqui)

11 de out. de 2012

Mensalão: golpe na democracia


Por Merval Pereira: Na definição do presidente do Supremo, Ayres Britto, “(...) sob a inspiração patrimonialista, um projeto de poder foi feito, não um projeto de governo, que é exposto em praça pública, mas um projeto de poder que vai além de um quadriênio quadruplicado. É um projeto que também é golpe no conteúdo da democracia, o republicanismo, que postula a renovação dos quadros de dirigentes e equiparação das armas com que se disputa a preferência dos votos”.
Já Celso de Mello analisou que o ato de infidelidade ao eleitor estimulado por venalidade governamental, além de constituir “grave desvio ético-político e ultraje ao exercício legítimo do poder”, acaba por gerar desequilíbrio de forças no Parlamento, tirando poder da oposição.



Por Reinaldo Azevedo: (...) Dirceu afirmou que a melhor resposta que se pode dar ao STF é vencer a eleição em São Paulo. Entenderam como pensa este gênio da estratégia, que corre o risco efetivo de continuar a fazer os seus planos na cadeia, a exemplo de outros chefes criminosos? Para ele, uma eventual vitória de Haddad serve como contraponto à decisão da Justiça; seria como uma absolvição. Dirceu está a confundir urna com tribunal. Por esse critério, qualquer bandido que fosse eleito estaria automaticamente absolvido.

10 de out. de 2012

Isaac Newton, refletindo sobre sua vida


"Não sei como o mundo me vê, mas eu me sinto como um garoto brincando na praia, contente em achar aqui e ali, uma pedra lisa ou uma concha bonita, mas tendo por descobrir diante de mim, o grande oceano de verdades."

9 de out. de 2012

Rastreamento dos olhos inaugura era pós-mouse


Interface com os olhos
Quando você deseja saber qual é a função de um ícone ou botão de um programa, basta passar o mouse sobre ele para que a informação surja rapidamente na tela.
Mas que tal se bastasse que você passasse os olhos sobre o local de interesse?
As possibilidades abertas por essa tecnologia já foram largamente demonstradas em laboratório, e impressionam sobretudo nos ambientes virtuais, incluindo jogos de todos os tipos e simuladores virtuais.
Mas o alcance é maior, podendo mudar radicalmente as interfaces de programas de computador, fazendo-as ir muito além do mouse e das telas sensíveis ao toque.
Sobretudo os dispositivos menores, como smartphones e tablets, têm muito a ganhar.


Rastreamento dos olhos
E o que faltava para tornar realidade essa tecnologia pós-mouse agora não falta mais.
A empresa japonesa Fujitsu anunciou o desenvolvimento de uma tecnologia de rastreamento dos olhos inteiramente baseada nas câmeras e LEDs que já vêm incorporados na maioria dos notebooks, smartphones e tablets.
Até agora, a tecnologia exigia câmeras e LEDs especializados, que ainda são caros e grandes demais para a integração nos equipamentos.
Os engenheiros da empresa superaram o problema das imagens borradas geradas nas altas velocidades de monitoramento necessárias para rastrear a pupila do usuário, a fim de determinar o ponto exato para onde ele está olhando.
Para isso foi usado um LED emitindo luz na faixa do infravermelho próximo, com a câmera detectando a reflexão dessa frequência de onda pelas diversas partes do olho. A direção do olhar é calculada usando a relação entre a reflexão da pupila e da córnea.

Era pós-mouse
"O processamento necessário para determinar a linha de visão do usuário a partir das imagens capturadas pela câmera é feita usando software, minimizando os custos de hardware," afirma a empresa.
No programa de demonstração da tecnologia, um usuário rola a tela ou faz um zoom na imagem apenas olhando para os botões disponíveis para essas funções.
A empresa afirma que a tecnologia já está pronta para comercialização.
Assim, não precisará esperar muito para usar os olhos para fazer a mira em jogos de primeira pessoa ou para navegar pelo Google Street View apenas olhando para onde você quer ir.

Fonte: aqui

6 de out. de 2012

Ao "domínio dos fatos" os petralhas contrapõem a "submissão do juízo"


(...) os ministros do STF passaram sete anos analisando os autos desse processo, tempo mais que suficiente para avaliá-lo. Afirmar, como faz Lula, que tudo aquilo é mera invenção equivale a dizer, implicitamente, que os ministros do STF são coniventes com uma grande farsa. 
Ferreira Gullar

5 de out. de 2012

Jornalista expõe subterrâneos da bandidagem


Em defesa acintosa de José Dirceu, ministro-revisor insiste em tema que pode elucidar o Mensalão do PT


Campo minado – Atuando de forma desavergonhada como advogado de defesa do réu José Dirceu de Oliveira e Silva, o que já provoca constrangimento no plenário do Supremo Tribunal Federal, o ministro Ricardo Lewandowski insiste, de forma desavisada, em um tema que é a chave para elucidar o maior escândalo brasileiro de corrupção. Revisor da Ação Penal 470, Lewandowski tem repetido a viagem feita a Portugal por Marcos Valério Fernandes de Souza e Emerson Palmieri, então tesoureiro do PTB.
Na nação irmão, Marcos Valério e Palmieri reuniram-se com altos executivos da empresa Portugal Telecom, que à época tinha interesse em adquirir a Telemig Celular, cuja conta publicitária estava sob a responsabilidade de uma das agências de propaganda do operador financeiro do Mensalão do PT.
O encontro com os empresários portugueses foi previamente autorizado por José Dirceu, como denunciou e posteriormente confirmou o deputado cassado Roberto Jefferson, delator do escândalo. O objetivo da viagem era conseguir junto à empresa portuguesa de telefonia um valor em propina para viabilizar o negócio, dinheiro esse que serviria para quitar dívidas de campanha do PTB e comprar a consciência de alguns dos parlamentares filiados à sigla.
Foi a partir de campanhas publicitárias superfaturadas, encomendadas por algumas empresas de telefonia celular, que o caixa do Mensalão do PT recebeu muito mais dinheiro do que os R$ 55 milhões desviados do Banco do Brasil por meio de Henrique Pizzolato.
Tendo movimentado maios de R$ 300 milhões, o caixa do mensalão recebeu dinheiro depositado em contas no exterior, cuja repatriação se deu de forma supostamente legal através de empréstimos bancários fictícios, largamente mencionados na acusação oferecida pela Procuradoria-Geral da República.
A afirmação que ora faz o ucho.info tem não apenas lógica de raciocínio, mas provas incontestes, pois seu editor foi grampeado por um empresário oportunista da área de telefonia, sendo que uma das conversas gravadas foi utilizada por envolvidos no Mensalão do PT como base para ameaçá-lo de morte. Enquanto o editor doucho.info apresentava à CPI dos Correios provas incontestes desse capítulo criminoso do mensalão, a grande imprensa chamava-o de esquizofrênico, sob a desculpa de que precisava diariamente criar um inimigo para digladiar.
Por outro lado, e ainda mais grave, quando integrantes da CPI dos Correios compreenderam ser verídicas e consistentes as provas apresentadas por este noticioso, aprovando pertinentes requerimentos de convocação, o editor foi informado, em Brasília, sobre o sequestro de sua mãe, que permaneceu nas mãos dos criminosos, em São Paulo, durante quase oito horas. A intimidação materializou-se logo em seguida, com os criminosos contratados enviando ao editor, em caixa de papelão, os objetos pessoais de sua mãe.
Fonte: Ucho.Info

Ditadura

Fonte: blog Trem Azul