PT defende a
democracia em videoteipe
por Guilherme Fiúza
O
julgamento do mensalão está pondo a democracia em risco, porque está todo mundo
vendo. O alerta do secretário de comunicação do PT, André Vargas, deputado pelo
Paraná, é preocupante. Ele denuncia as transmissões ao vivo do Supremo Tribunal
Federal como um perigo para as instituições, as pessoas e os partidos. De fato,
esse negócio de ficar mostrando as coisas como elas são, na hora em que
acontecem, ainda vai dar problema.
Tudo
era muito melhor antes de Roberto Jefferson abrir a janela e deixar a luz
entrar. Na penumbra, sem ninguém de fora ver nada, a democracia estava bem mais
protegida. Os negócios patrióticos que corriam de lá para cá pelo valerioduto
teriam prosperado, e certamente haveriam pulado da casa dos milhões para a dos
bilhões. No que a TV mostrou e a imprensa publicou, aquele promissor projeto
nacional escorreu pelo ralo. Um prejuízo incalculável.
André
Vargas diz que o julgamento no STF virou “quase um Big Brother da Justiça”. Com
a habilidade de comunicador que fatalmente tem um secretário de comunicação,
ele está indicando que o que se passa na corte suprema do país é uma palhaçada.
Sua imagem nos permite imaginar que, a qualquer momento, os juízes vão tirar
suas capas e mergulhar de sunga na piscina, exibindo seus músculos, seus planos
para a festinha de logo mais e suas intrigas para jogar o colega ao lado no
paredão.
É
uma sólida argumentação. Realmente, fora do circo, as palhaçadas só deveriam
ocorrer entre quatro paredes. Sem transmissão ao vivo. A palhaçada da cúpula do
PT com Marcos Valério, por exemplo, transferindo dinheiro do Estado para o
partido, não tinha nada que vir a público. Era um assunto privado deles,
ninguém tinha nada com isso. E o fato de a operação envolver dinheiro do povo
não tinha o menor problema. Eles tinham sido eleitos por esse povo para fazer o
que sabiam fazer. Estavam, portanto, cumprindo seu compromisso democrático.
Tanto que depois disso foram eleitos novamente duas vezes para dirigir o país.
Cada povo tem os palhaços que merece.
Só
não fica bem, como alertou André Vargas, botar essas coisas na televisão. Se a
família está jantando, por exemplo, a comida pode não cair bem. É um risco para
a democracia e para o estômago dos brasileiros. Para que viver perigosamente?
Democratas
deste Brasil grande, interrompam imediatamente a transmissão das sessões do
Supremo. Detenham enquanto é tempo esse atentado às instituições e às pessoas
de bem. Não é preciso tanta pressa para saber o que se passa no tribunal. Vamos
deixar as coisas se acalmarem, a febre baixar e o povo se distrair com outra
coisa. Papai Noel não demora, depois tem o Carnaval e aí começa a contagem
regressiva para a Copa do Mundo no Brasil. Ninguém vai querer que este país
sedie o maior evento do mundo com sua democracia em risco. Desliguem
as câmeras no STF já!
Outro
brasileiro que subiu o tom em defesa da democracia foi o senador Jorge Vianna,
do PT do Acre. Jorge Vianna era um político moderado, equilibrado, conhecido
pela sensatez. Mas tudo tem limite. Depois que o nome de Luiz Inácio da Silva
começou a circular no Supremo, e que supostas declarações de Marcos Valério
colocaram o ex-presidente no topo da palhaçada, o senador mansinho virou bicho.
Assim como seu colega André Vargas, botou o dedo na ferida: isso é um golpe da
elite preconceituosa.
Para
os não-iniciados, é bom esclarecer: “elite”, no dicionário do PT, é um termo
figurativo muito importante para os ladrões do bem, que os mantém na condição
de milionários oprimidos. Eles têm o poder, mas “elite” são os outros.
É
um conceito que funciona bem há bastante tempo, e em time que está ganhando não
se mexe. A outra palavra-chave desse dicionário é “preconceito”. Luiz Inácio da
Silva é o filho do Brasil, vítima da elite. Se você tiver preconceito contra a
montagem de um governo quadrilheiro, esqueça. Você estará sempre sendo
discriminatório contra o pobre homem bom. Não importa quantos valeriodutos
atravessem a biografia dele.
Como
já decretara o nosso Delúbio, o mensalão é um golpe da direita contra o governo
popular. O que Jorge Vianna, André Vargas e grande elenco petista estão dizendo
é: pelo amor de Deus, continuem acreditando nisso, senão estamos fritos.