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20 de jan. de 2012

As culpas da imprensa


"Ex-deputado é condenado a 103 anos", gritava a manchete.

(É Talvane Albuquerque Neto, aquele que matou a deputada Ceci Cunha, de quem era suplente na Câmara, e três dos seus familiares, para ficar com o cargo).

"426 anos é a soma das penas dos seus quatro capangas", destaca o Estadão em vermelho.

"Não tem nada a ver com vingança; nós estávamos procurando Justiça", diz o filho da vítima.

E parece que ela foi feita! Finalmente, ao fim de 14 anos de luta nos tribunais (o crime foi em 1998), pune-se ao menos um da casta dos inimputáveis!, diria o leitor incauto que, diante de tanta comemoração, se deixasse iludir pela aparência de racionalidade que inspira uma página impressa.

Que nada!

Juiz que quer ver um cara em cana condena a 29 anos 11 meses e 29 dias. Não há quem não saiba no Brasil que condenações a mais de 30 anos são uma farsa que conduz o "condenado" diretamente à porta de saída da prisão porque remete o caso automaticamente para recurso (mais um, depois de 14 anos de recursos).

E, no entanto, todo mundo entra na farsa. A imprensa inteira adere à linguagem dos fariseus, sem denunciá-la como tal.

Falta muito, mas muuuito meeesmo pra que esta nossa Babel possa começar a sonhar com uma democracia de verdade...


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