Rio+20 = zero
por Guilherme Fiuza
Às
vésperas da conferência Rio-92, 20 anos atrás, o secretário-geral da Cúpula da
Terra, Maurice Strong, sentenciou: “Esta é a nossa última chance de salvar o
planeta.” Agora, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, avisa que a Rio + 20 é
a “única oportunidade” de garantir um futuro sustentável. Do jeito que as
coisas vão, a Rio+ 40 será a última oportunidade de salvar o mundo dos
ecoburocratas, que estão cada vez mais contagiosos e letais.
Os
negociadores dos mais de 130 países representados na conferência estão
preocupados. Vários deles já disseram que a grande questão a ser decidida na
Rio + 20 é quem vai financiar o desenvolvimento sustentável, com quanto
dinheiro. E que não há acordo à vista sobre isso. Talvez seja necessário
responder a outra questão antes dessa: quem vai nos salvar dessas festas
ecológicas milionárias que não decidem nada? Quem vai dar um basta nesses
banquetes insustentáveis que discutem sustentabilidade?
Ninguém
segura a patrulha da bondade e seu alegre circo do apocalipse. No picadeiro da
salvação sempre cabe mais um. É aquela oportunidade valiosa para os ativistas
de si mesmos descolarem mais um flash por um mundo melhor. O oportunismo é
verde. Cientistas políticos gritam que o tempo está se esgotando, artistas
buscam sofregamente algum bordão conceitual, mesmo que se atrapalhem um
pouquinho – como na célebre frase de uma cantora de MPB em momento ético: “O
problema do Brasil é a falta de impunidade”.
Enquanto
a feira de lugares-comuns e o show de auto-ajuda planetária evoluem na avenida,
o mundo piora. A crise nascida na Europa veio mostrar que a farra estatal é
boa, mas um dia a conta chega. Com a licença dos ecologistas: pode ser a última
chance de se descobrir que não é o Estado que sustenta a sociedade, mas o
contrário. E que não existe Estado forte com sociedade fraca. Pois é nesse
momento de alerta contra os governos perdulários que se monta o colossal almoço
grátis da Rio + 20. Um banquete para discutir o desperdício. Haja
sustentabilidade.
O
que quer a faminta burocracia verde, com seus sábios fashion de bolinha
vermelha na testa e seus relatórios sobre o fim do mundo? Quer a Bolsa
Ecologia. Quer mais dinheiro do contribuinte para mais relatórios, mais
comissões, mais mesadas para ONGs, mais conferências coloridas e animadas.
Enquanto isso, a vida real vai muito bem, obrigado, para monstros como a usina
hidrelétrica de Belo Monte – uma estupidez ecológica, uma aberração econômica e
um monumento ao desperdício estatal. O custo cada vez mais insustentável da
energia nuclear também não é problema para os abastados anfitriões da Rio + 20,
como indica a construção de Angra 3 – cujo lixo radioativo tem garantia até a
Rio + 2020. Passaporte para o futuro é isso aí.
Duas
décadas de sustentabilidade conceitual não chatearam os vilões reais. Na Rio-92
foram assinadas as Convenções de Biodiversidade e do Clima. A primeira
instituiu o direito das populações tradicionais sobre o patrimônio genético de
suas terras. Enquanto a biotecnologia progride, os povos da maior floresta
tropical da Terra continuam a ver navios no Rio Amazonas. Os royalties que
conhecem de fato são os do contrabando de madeira – porque infelizmente não
podem se alimentar de convenções. Já a Convenção do Clima gerou o que se sabe:
uma sucessão de protocolos sobre redução das emissões de gás carbônico. Cada um
é mais severo que o anterior, devidamente descumprido. Com novos prazos de
carência, as metas vão ficando mais ambiciosas, numa espécie de pacto com o
nunca.
E
aí está a patrulha da bondade em mais uma conferência planetária, reunindo os
melhores especialistas internacionais em sustentabilidade e sexo dos anjos.
Eles vão dizer que o mundo vai acabar e a culpa é sua. Vão mandar você deixar
seu carro na garagem e tomar banho rápido. Não vão falar em controle
populacional, porque isso é de direita. Eles são progressistas, sociais, amam
cada um dos 7 bilhões de habitantes da Terra, que serão 10 bilhões até o fim
deste século, todos muito bem-vindos.
O
problema, claro, é do capitalismo individualista, cheio de egoístas que demoram
no banho. Serão precisos muitos banquetes ecológicos para mudar essa mentalidade.
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