do blog Vespeiro
Do
lado de cá, tenho acompanhado com crescente ansiedade as tentativas que
encontro pelos jornais de analisar com excesso de benevolência o quadro que se
desenha da sequência julgamento do Mensalão – eleições municipais.
Não
discuto a pertinência das conclusões que extraem da aritmética da votação
(sobretudo quando incluem os números da deliberada e maciça abstinência) em
todo o país e nem a verdade do que muitas delas afirmam sobre a legitimidade
das pretensões do PT ao poder em escala nacional (e até além dela).
Mas
não é disso que se trata.
Fora
das democracias plenas, privilégio muito recente de meia dúzia de povos, se
tanto, verdade e legitimidade sempre tiveram muito pouco a ver com aquilo que
de fato define a conquista e o exercício do poder.
É
um dado histórico. E a plena aceitação dessa verdade sobre ‘o real poder da
verdade e da legitimidade no jogo do poder’, posta ao lado das hesitações dos
que acreditam que basta reafirmá-la para se defender das feras, é a principal
arma com que Lula tem contado para comer como tem comido o fígado do
eleitorado.
Se
não podemos e nem queremos agir como ele, é preciso, ao menos, pensar como ele
pensa ao avaliar o campo de batalha para ganhar um mínimo de eficácia na luta
que está por vir.
A
questão, daqui por diante, é simples. Trata-se de saber quem vai domesticar
quem: se é a imprensa e o Judiciário que vai controlar o PT ou se, ao
contrário, é o PT que vai controlar a imprensa e o Judiciário.
Do
lado de lá, jogo mais claro é impossível.
O
PT não aceita que se lhe exponham os podres e nem, muito menos, que se lhe
condenem por isso. Para que não restem mal entendidos, ovaciona todos os dias
os seus condenados e manda avisar a quem interessar possa que, qualquer que
seja a pena que venha, vai passar a trote por cima da instância máxima da ordem
institucional brasileira, cujas decisões o partido não acata nem acatará, e
brandirá por cima dela a contra-sentença de algum dos muitos circos que os
restos da esquerda bandida ainda mantêm armados pelo mundo afora para ocasiões
como essa.
O
padrão exemplar de "democracia" que o partido repete, de Dilma a
Lula, com igual convicção e fervor, é o da Venezuela de Chávez, a Argentina dos
Kirchner e o Equador de Correa, onde qualquer interessado poderá visitar as
diferentes etapas de desenvolvimento do mesmo projeto que o PT afirma querer
transplantar para cá, todos eles, por sua vez, inspirados na Cuba dos Castro
que é onde os quatro sonham chegar. E veja bem o quanto o Brasil terá que
retroceder para se igualar com esses lixos latinoamericanos!
Não
pode haver ilusões. O PT é aquele tipo de adversário que, numa contenda
supostamente balizada por regras civilizadas, leva para o ringue, além das
luvas, o seu inseparável revólver e outras armas escondidas no calção (ou na
cueca, como prefere). Enquanto estiver ganhando dentro nas nossas paupérrimas
regras escoriocráticas, limitar-se-á ao uso das luvas, ainda que abusando dos
golpes abaixo da cintura. Se sentir a perspectiva da lona, puxará o revolver e
acionará o gatilho e usará inescrupulosamente de todo o seu arsenal oculto.
Nada,
rigorosamente nada do que o PT tem dito e feito indica o contrário. Cada
declaração, cada gesto, cada ato de governo tem o claro e reto objetivo de
fechar a porta à alternância no poder. A desculpa de que é tudo "para
fazer avançar a democracia social" é uma daquelas mentiras rodriguenhas
que clamam aos céus.
Se
a sequência do julgamento do Mensalão – as eleições municipais provaram alguma
coisa por enquanto, ou seja, que não existe barreira nenhuma contra a
"democracia social", que pode avançar tão perfeita e livremente
quanto for o desejo da coletividade dentro do limpo terreno republicano.
Mas
nem mais tal prova indiscutível da inexistência da tenebrosa criatura da
‘zelite’, que eles vivem denunciando, impede que eles sigam gritando
"Lobo!"
Ao
contrário.
O
PT renunciou faz tempo à utopia socialista. Trata-se agora de edificar o
capitalismo de estado brasileiro à moda chinesa, onde tudo se resolve entre
amigos (que, enquanto "fazem avançar a democracia social", como acaba
de demonstrar o New York Times com relação à família Wen do patriarca Jiaobao,
costumam ficar bilionários).
Para
essa tarefa, as armas do passado são substituídas pelo dinheiro, e o acesso ao
dinheiro necessário para desígnio tão grandioso se dá pelo controle das verbas
públicas e a cooptação/fabricação de megaempresas globais estatais.
A
primeira etapa – assenhorear-se com dinheiro de ‘Caixa 2’ do Poder Executivo "para
fazer avançar a democracia social" – está completa e voluntariamente
confessada.
A
segunda – anular com dinheiro público desviado, qualquer sombra de resistência
do Congresso ("ao avanço da democracia social", é claro) – foi a que
o Supremo Tribunal Federal acaba de descrever e condenar, tanto nos seus
métodos quanto nos seus objetivos.
Antes
e depois de cada uma, ocorre a colonização da máquina pública e a
partidarização do Estado com o objetivo de amealhar mais dinheiro "para
fazer avançar a democracia social", isto é, para comprar votos e
consciências com suborno, assistencialismo, doação subsidiada de bondades de
véspera de eleição, conforme a necessidade. E entre os mais preciosos produtos
de tais operações colhem-se os argumentos para sobrepor "legitimidade
política", êxito econômico e popularidade ao império da lei. E da ‘quadrilha’...
O
projeto é claro como o sol, e há muito que não é mais só um projeto.
Há
esperanças?
Há.
O
bicho homem tem de ser tangido a pau para fora do seu egoísmo e do seu instinto
predatório, naturais. Democracia é isso, e é isso que o Supremo Tribunal
Federal, pela primeira vez na história deste país, começou a fazer com o
julgamento público e didático do Mensalão e a condenação dos bandidos, ainda
que tardiamente.
Abre-se,
assim, a oportunidade de o Judiciário vir juntar-se à imprensa para dar
consequência prática à tarefa de impor a democracia que ela, desde o início da
República, vinha a duras penas tentando empreender a mão desarmada.
Os
predadores dos níveis mais altos da cadeia alimentar, como os políticos e os
mega "empresários estatais" e privados a eles associados, entretanto,
nunca são completamente domesticáveis. Poder e dinheiro são o gatilho que
disparam os fatos que deixam um "cheiro de sangue" no ar sempre
pronto a detonar a volta deles à sua condição selvagem original.
Os
nossos, hoje solidamente associados e comensais comedores de restos da
república, que costumam acompanhar esses espécimes, estão próximos demais da
carótida do Brasil para aceitar se afastarem placidamente dela.
Só
o farão se doer muito.
A
questão é que restam muito poucos do lado de cá para garantir que assim possa
ser. Sim, há 11 partidos dividindo o poder nas 26 capitais. Mas só um e meio
podem, em sã consciência, ser classificados fora da categoria dos “comedores de
restos”. Falta um partido que seja contra o socialismo, mesmo e principalmente
o chamado pejorativamente de "democracia social". O que há de sólido
são as duas pontas do sistema que não vivem de votos e mais da metade do
eleitorado que, votando ou deixando de votar, provou que não se vende.
O
único recurso dos que se recusam a entrar no ringue carregando armas proibidas
é a rapidez de resposta. É preciso derrubar o adversário sempre que ele levar a
mão em direção ao coldre e antes que ele possa sacar a arma ilegal escondida. A
imprensa e o Judiciário (e com ele o Ministério Público legitimado pela
Constituição de 88) têm de articular uma rede de alarme e resposta rápida aos
ataques que virão de modo tão profissional e eficiente, respeitadas as regras
do jogo democrático, quanto o inimigo declarado que jura os dois de morte
articulou a sua ação.
Mesmo
porque, o que acontecer com uma acontecerá com o outro, e vice-versa.
José
Guimarães (PT – CE), irmão de José Genoíno (PT – SP), é aquele cujo assessor
direto, José Adalberto Vieira, foi preso no Aeroporto de Congonhas em São Paulo com US$ 100
mil escondidos na cueca, e mais R$ 209 mil numa maleta de mão, quando embarcava
para Fortaleza.
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