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28 de fev. de 2010

Progressão

Tem um camarada aí, jornalista do Financial Times, que publicou dia desses uma análise sobre a próxima campanha eleitoral brasileira. Dizia ele que o tema central do debate seria o tamanho do Estado.

Quase ao mesmo tempo, num post do Blog Coturno Noturno, o "Coronel" alertava :

O eleitor que elege um presidente não está preocupado com um governo mais ou menos estatizante. Com o câmbio flutuante. Com a dívida externa. O discurso social é que elege. O discurso das necessidades básicas: casa, comida, remédio, ônibus e polícia na rua.

Ambos têm suas razões, relevantes, e mesmo interdependentes. O vulto da ação social possível é condicionado (também) pelos meios e funções que foram apropriados pelo Estado. E as limitações que a sociedade impõe ao Estado implicam em restrições à sua atuação.

O Estado máximo, ou total, extingue os protagonismos que não lhe estejam sujeitos, matando com isso a galinha dos ovos de ouro da iniciativa particular. É certo que preserva, por algum tempo, as galinhas dos ovos de prata dos idealismos ingênuos, mas acaba ficando mesmo é com aquelas dos ovos de chumbo dos parasitas cínicos.

Já o Estado mínimo, no limite, torna-se incapaz de fazer frente à rede de interesses particulares cada vez mais poderosos - sobre os quais faz uma sombra também mínima - que não convirjam espontaneamente para a formação de um ambiente cultural e social civilizados, onde não impere a lei da selva.

Entre esses extremos, para cada conjuntura, há um ponto de equilíbrio. Que não nos é dado conhecer de antemão, e que deve ser procurado como quem progride num campo de batalha. Literalmente. Senão vejamos.

Debaixo do tiroteio entre os apóstolos da "liberdade" e os profetas da "igualdade", mitigado malemá pelos arautos da "fraternidade", debaixo dessa zorra de princípios grandiloquentes, vociferantes e alienantes temos algo muito simples: a infinitamente complexa realidade. Que jamais caberá nas roupas com que a vestimos, ocultando de nós mesmos sua nudez - e nossa natural e abissal ignorância.

Não é mesmo? De que vale uma reles arrogância ante o mistério da condição humana e da natureza, do desconhecido sentido da existência de vida no universo? Alguém pode contestar que o tamanho do desconhecido é infinitamente maior que quaisquer aspectos do âmbito do conhecido, mesmo os mais complexos? Ante isso, a humildade não seria mais apropriada? Ei, senhor tiraninho, senhora tiraninha, permitam a essa humilde criatura recomendar-lhes essa inteligente humildade, para que percam vossas estupidezes. É preciso, vocês são um saco.

Mas é isso, ao que parece. Tornamo-nos funcionais vestindo a realidade. Construímos estruturas de conhecimento apoiadas em princípios fundantes, que o são também condicionantes, uma vez que todos os aspectos do seu corpo doutrinário precisam manter uma coerência interna. E com isso, a vastidão da realidade sai do foco: o brilho da atenção se concentra em uma sua limitada representação e interpretação.

E é do alto dessas torres da percepção limitada, castelos feudais de uma época bárbara, que partem os tiros dos "castelães", produzindo todo tipo de estrago nas vilas, entre os "vilões"...

Tem chão..., essa história, e o abismo é aqui ao lado.

Bem, dizia que nossa funcionalidade deriva de uma simplificação e de uma concentração. Mas isso talvez seja apenas parcialmente verdadeiro; quero crer na possibilidade de sermos funcionais também em contato direto com a realidade incondicionada, sem os filtros interpretativos e sem nos sentirmos totalmente perdidos pela falta de referências. Isto sim, poderia ser chamado de liberdade; o vôo por sobre o abismo, nas asas da sabedoria.

Então, as posições dogmáticas ideológicas conflitantes devem ser vencidas por um insuperável bom senso, que as faça calarem-se. Há uma voz autêntica a ser ouvida que, de tão respeitável, exige antes o silêncio.

Quero ouvi-la, de quem quer que possa enunciá-la, ou que dela tenha ouvido falar.

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