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15 de set. de 2011

Reinaldo Azevedo; imperdível

Não, Vaccarezza! O povo não votou na sacanagem!

O deputado Candido Vaccarezza, líder do governo na Câmara (SP), um dos freqüentadores do gabinete paralelo do “chefe de quadrilha”, anda com o juízo perturbado. Seria influência das más companhias? Ontem, depois da queda de Pedro Novais, demitido do Ministério do Turismo, ele disse coisas estranhas. Já chego lá. Antes, algumas outras considerações.

Cinco ministros demitidos em oito meses, quatro deles atropelados pela ética! E olhem que Mário Negromonte só está no cargo porque se entendeu que ele estava recorrendo a uma licença poética ao prever que ainda haveria cena de sangue no boteco do Planalto. Sai Novais, e assume Gastão Vieira. E as credenciais para ser ministro? Ora, ele é do PMDB do Maranhão e amigo de Sarney, a exemplo do antecessor. E Dilma se irritou quando Patrícia Poeta se referiu ao “toma lá, dá cá” da base. De tal sorte o governo está loteado entre os partidos e de tal sorte os partidos lotearam a parte que lhes cabe no latifúndio, que um “Famoso Quem?” é substituído por outro “Famoso Quem?” Ter intimidade com a pasta é irrelevante. Dado o quadro, o fato de o homem se chamar “Gastão” é só mais uma piada inocente, que já nasce pronta.

O modelo, esse tal “presidencialismo de coalizão”, nunca foi grande coisa, mesmo quando operado com rédeas relativamente curtas. Sob o lulo-petismo, que liberou as forças produtivas da fisiologia como nunca, ele chegou à esclerose. A rigor, não temos governo, mas um assalto ao estado. As urnas são uma espécie de ritual para que as máquinas partidárias dividam o butim. É claro que, apesar dessa gente, o Brasil avança. Mas vai a um ritmo muito inferior às suas potencialidades e muito aquém das necessidades do povo. Tomem o exemplo da educação. Estamos diante de um desastre de grandes proporções, revelado por sucessivos exames, inclusive o Enem. Mas Fernando Haddad comemora e quer ser prefeito brandindo a bandeira da educação.

“Esse modelo é uma fábrica de escândalos de corrupção e compromete a eficiência administrativa. É a fotografia do toma-lá-dá-cá”, afirmou, com correção, o líder PSDB no senado, Álvaro Dias (PR). Vaccarezza não gostou e respondeu: “Eu sei que a oposição reclama muito: ‘Temos que ver o modelo’. O que é modelo? O programa de governo foi aprovado nas urnas com ampla votação do povo brasileiro.” Devagar aí, companheiro! Os eleitores, mesmo os petistas, não elegeram um governo para que o país fosse pilhado por larápios! O “programa aprovado nas urnas” certamente não abrigava as lambanças no Dnit, os desmandos na Agricultura, a ONG pilantra no Turismo…

Novais já deveria ter caído faz tempo. Na verdade, nem deveria ter sido nomeado. Protagonizou um escândalo antes mesmo de tomar posse. Só ocupava a pasta porque fruto do modo como se entende a divisão de poder no país. Um governo compõe, sim, com seus aliados; é parte da regra do jogo. Compartilhar é coisa distinta de lotear. O loteamento é isso que se voltou a fazer ontem: “Digam aí, peemedebistas: quem vai ser ministro?” Dilma não escolheu; escolheram por ela e para ela.

Hora de começar a mudar
A crise é do modelo, sim. Já está claro que a chamada “classe política” não vai se mover — com as exceções de sempre — se não for convocada pela população, por fatias dela ao menos. Dilma tem a coragem de demitir, observam alguns. Ok! Ruim foi quando teve a coragem de nomear essa gente.

Não dá mais! O modelo está vencido! Perdeu-se do horizonte o bem público. Hora de pensar em mudança. Precisamos de uma reforma digna desse nome, que “desprivatize” a política. A população — e não apenas os militantes do PT — tem de entrar na equação. Quando falo sobre o “modelo vencido”, não pensem que eximo de responsabilidades os protagonistas dos escândalos. Ao contrário! Fossem decentes, não se meteriam em falcatruas.

Precisamos de um sistema que seja hostil à bandidagem. O que temos hoje facilita enormemente seu trabalho. O voto distrital é a primeira luta que se afigura no horizonte. Até que chegue o dia em que teremos de discutir a sério o fim do Presidencialismo.

Por Reinaldo Azevedo

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