O artigo inteiro está primoroso. Segue um trecho:
"O lobo troca de pelo, mas não de vício. José Dirceu já mudou de
cara, mas não de espírito. Quando na oposição, tentava inviabilizar governos
eleitos democraticamente. Quando no governo, tentou — e tenta ainda — inviabilizar
a democracia. Sob sua inspiração e com o apoio de Luiz Inácio Apedeuta da
Silva, a Executiva Nacional do PT aprovou ontem um documento em que
acusa a associação de setores da imprensa com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e
pede “marco regulatório” para a mídia — entenda-se: censura à imprensa.
Eles nunca desistiram desse propósito. A ameaça estava no Plano
Nacional dos Direitos Humanos e jamais deixou de frequentar as ilusões dos
petistas. Repudiada pela sociedade, a proposta é agora ressuscitada, com o
apoio de Lula, o frenético trabalho daquele que o Procurador Geral da República
chama “chefe de quadrilha” e a propaganda da rede na Internet financiada
com dinheiro público. É a formação de quadrilha contra a liberdade de imprensa.
Podem espernear à vontade. Não deixaremos que cobrem propina por
aquilo que a Constituição nos dá de graça: a liberdade de expressão, a
liberdade de opinião, a liberdade de informação. De graça hoje! Mas essas
conquistas custaram o esforço de gerações de brasileiros que lutaram pela
democracia. Não é o caso de Dirceu! Não é o caso de alguns de seus
companheiros. Sonhavam e sonham com a ditadura do partido único, com um país
tutelado pelos companheiros, com um regime infenso aos controles que só a
democracia proporciona, com uma Justiça independente e uma imprensa vigilante.
Pouco antes de deixar o poder, Lula anunciou que se dedicaria à
tarefa de demonstrar que o mensalão tinha sido uma invenção da oposição para
desestabilizar o seu governo — a velha tese do “golpe”, criada por intelectuais
do PT, vigaristas em
essência. Intelectual da academia que tem partido é como juiz
de futebol que torce por um dos times em jogo; é um farsante. Adiante. Eis aí.
O caso Cachoeira, tudo indica, estava sendo gestado de longa data — tanto é
assim que o senador Demóstenes Torres vinha sendo monitorado havia muito tempo.
Mas eis que surge um bom momento para detonar a crise.
Ocorre que ela pega em cheio algumas figuras graúdas do PT, como o
governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz — já defendido por Dirceu do
modo como Dirceu sabe defender as suas causas: com unhas e dentes. Tenho pra
mim que, a esta altura, Lula está disposto, se preciso, a entregar Agnelo na
bandeja se achar que pode ganhar a guerra da opinião pública e fazer com que se
volte contra o que resta de oposição no país. É parte, em suma, do trabalho de
construção do Partido Único. Se tiver que ceder um peão, para usar a linguagem
do Apedeuta (e de Hitler… Que coincidência!), tudo bem!
Na guerra suja, vale tudo. Não é por acaso que um dos alvos seja a
imprensa. Não chega nem sequer a ser original. Neste momento, estão empenhados
nessa mesma luta os governos da Venezuela, do Equador, da Bolívia, da
Argentina, da Nicarágua… Todos eles, com mais ou menos ênfase orbitando em torno
dos mesmos valores, cuja síntese pode ser esta: em vez de uma sociedade que
controle o estado, como é próprio das democracias, um estado que controle a
sociedade, como é próprio das ditaduras.
Mas, afinal de contas, o que quer essa gente? É simples! Roubar
dinheiro público sem ser incomodada por ninguém. E só me resta assegurar:
continuarão a ser incomodados enquanto o Brasil for uma democracia!
Foi Roberto Jefferson, então uma das cabeças coroadas da base
governista, quem denunciou o mensalão, em junho de 2005. A partir de algumas
informações que ele forneceu em entrevista à Folha, a imprensa deu início a um
trabalho de investigação, também empreendido pela ala honesta da CPI. O que se
revelou foi a maior teia criminosa jamais montada no país para assaltar os
cofres, mas também, atenção!, para fraudar os fundamentos do estado de direito.
Nem o dinheiro que pagou o marqueteiro de Lula era limpo, é bom lembrar!
Esses patriotas não se conformam que suas tramoias para fabricar
dossiês sejam denunciadas; que o bunker montado por Erenice Guerra na Casa
Civil tenha sido violado; que as consultorias de Antonio Palocci tenham sido
trazidas à luz; que a roubalheira no Ministério dos Transportes tenha sido
evidenciada; que as lambanças no Ministério do Esporte tenham sido detalhadas;
que a rataiada entocada no Ministério da Agricultura tenha sido encontrada; que
os descalabros no Ministério do Trabalho tenham sido escancarados; que a
governo paralelo do “chefe de quadrilha” que se esgueira em hotéis, numa
espécie de exploração do lenocínio político, tenha sido desmascarado.
Imaginem quanto dinheiro público a imprensa ajudou a preservar da
fúria desses rapaces rapazes… O jornalismo independente prejudica seus
negócios, cria óbices a suas vigarices, obriga-os a ter cuidados redobrados,
deixa-os tensos! É preciso pôr um freio na liberdade de imprensa para que os
larápios possam, então, roubar sem freios."
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