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23 de mai. de 2010

Chute na canela

Um agente provocador, disfarçado de jornalista, dizendo-se pautado por uma fonte secreta, quis saber do presidenciável José Serra "se era verdade que ele iria acabar com o Bolsa Família".
Está aí o xis da questão, o grande ativo eleitoral do PT. Esse partido, que conseguiu agregar em torno de si praticamente tudo o que há de mais podre na política brasileira, para dar continuidade à roubalheira necessita do apoio da massa popular, e faz com ela uma troca de favores, às expensas do restante e do futuro do país.
Não tenho os números, mas não tenho dúvida de que o gasto do governo federal com a propaganda de suas "ações sociais" seria suficiente para que estas fossem muito mais abrangentes. Enganar a massa e ainda por cima enriquecer a militância é tudo o que eles querem.
Como desmontar essa tramóia?
Pelo chamamento à razão dos políticos comprometidos seria ingenuidade, dada sua venalidade irreversível. Pela cobrança de atuação da rede institucional seria insuficiente e temerário, por estar esta se mostrando, cada vez mais, incapaz de conter as investidas da ilegalidade, e por isso mesmo em processo de desmoralização - que só não está conduzindo o país à anomia porque seu espaço de autoridade normativa vai sendo ocupado, paulatinamente, pelo arbítrio ditatorial dos iluminados do partido único, nela infiltrados.
Resta, como última alternativa, a conquista da própria fonte da soberania democrática: a opinião do povo.
Fosse este mais esclarecido - mais independente, em todos os sentidos -, esse trabalho nem seria necessário; a correção de rumos se imporia como que por magia; uma pressão efetiva e silenciosa simplesmente impediria que as aberrações prosperassem. Mas é preciso chegar a constituir-se uma massa crítica para que as estridências se sintam deslocadas e caiam, sozinhas, em si.
Tal como está, o povo realmente precisa de dentista nas escolas, de um sistema de saúde sustentável e apto a um atendimento tempestivo, de uma ordenação educacional capaz de diferenciar-se conforme as opções e aptidões, de uma estrutura de segurança que mereça respeito, de um Estado com prestígio suficiente para estabelecer normas que valham inclusive para os governantes, referendadas por uma população com autonomia para tanto.

A autonomia é a grande aspiração do indivíduo, e nada como dispor de dinheiro para ter-se, dela, a sensação... O esquema atual da Bolsa Família, embora mais subjetiva que objetivamente, contempla essa demanda, dá o gostinho..., que implica em auto-estima, gera gratidão..., e inibe a avaliação crítica.
Nem só de pão vive o Homem; essa demanda é real. Podemos atendê-la, sem a criação de laços espúrios.
Assim como entre os judeus, parece, há o costume de se fazer uma poupança para as crianças, que lhes é entregue ao irem atingindo a maioridade, poderíamos destinar um recurso público, advindo da riqueza natural do país, para sua população que foi menos favorecida pelas heranças, materiais ou não, que todos recebemos. Por exemplo, direcionar o rendimento das ações da Petrobras em poder do Estado, ou algo equivalente, a essa política social. Isso traria impessoalidade ao sistema e levaria a própria cidadania a interessar-se pela gestão da distribuição; quanto mais beneficiários, menos para cada um.

O terrorismo eleitoral - da implantação da desconfiança quanto ao encerramento do Bolsa Família - poderia ser respondido objetivamente com a enumeração das ações a serem implementadas nos campos da saúde, educação e segurança, que também são renda indireta, e com a denúncia da dependência política, causada pela barganha de uma autonomia ilusória pelo poder real de algum idiota oportunista.

2 comentários:

Verônica disse...

O povo é uma massa acéfala, e como tal deve ser guiada. O problema é sabermos por quem, e os mais espertos já sacaram que não é pelo populismo lulista, travestido de defensor do povo e ao mesmo tempo um dos governos que mais aumentaram as taxas de impostos desse país. Diminuiu o poder de compra tanto da tão malhada classe média, quanto da classe produtora e, como não poderia deixar de ser, do povo pobre. Não há bolsa família que sustente os impostos que pagamos até na "basicona" cesta básica. Essa é a face do lulismo que querem esconder.

Ari disse...

Meu foco é criar condições para que todos se habilitem à autonomia. Uma das decorrências disso, e apenas uma, é a habilitação à cidadania, sem a qual não teremos uma República, mas apenas sua fachada.
O resgate das mentalidades, sua liberação das prisões conceituais, passa pelo estímulo à independência, e não acaba na desintegração das normas que asseguram a ordem social, muito menos na acomodação a uma ordem imposta, portanto tirânica, para a qual, aliás, a autonomia é um veneno.
Esse programa Bolsa Família, apesar de ter virado mercadoria no comércio eleitoral, traz em si a kriptonita daqueles que o utilizam como pretexto e alavanca para seus próprios desígnios.
Realço: o fato das pessoas passarem a dispor de uma quantia de dinheiro, e com isso verem-se na situação de tomarem decisões autônomas, tem muito mais valor que o sentido meramente econômico da coisa; embora redunde em colateralidades econômicas, este não é o ponto central, e a análise não deve estar aí focada. Um sentimento foi despertado: o de segurança e estima, e é pago na mesma moeda: em gratidão, em lealdade, em compromisso e apoio. E essa resposta, - em uma palavra, de amor -, poderia estar sendo direcionada à pátria tornada querida, em vez de a uma pessoa ou a um partido que para si a desviam, movidos por propósitos que não explicitam nem submetem à apreciação de todos, considerando-os verdadeiramente como iguais.

É um beco sem saída evolutivo investir no espírito de manada. Não basta fornecer um bom pasto e manter o rebanho sadio, mas preso a um cercado.
Não há o que possa conter a evolução, só o que possa atrasá-la um pouco.
A ditadura socialista, a que chamam revolução, não é evolução, e sim estagnação.
Não ficará impune nenhuma tentativa de submeter o espírito do homem.