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25 de abr. de 2010

Janela de oportunidade

Há alguns anos tenho guardado esta frase, dita por um tal Horace Mann em meados do século XIX:

"O estabelecimento de um governo republicano sem meios bem determinados e eficientes para a educação universal do povo é o mais intempestivo e insensato experimento jamais tentado pelo homem.

O contexto, naturalmente, era o da transferência de autoridade das estruturas aristocráticas para aquelas de elaboração popular, regradas pela democracia constitucional.

Junto à frase, havia também um comentário mais recente, de autor desconhecido:

Quão verdadeira esta declaração é hoje, quando temos o sufrágio universal!
Não apenas a prosperidade de nossa economia tecnológica, mas, ainda mais, o bem-estar de nossa democracia política depende da reconstituição de nossas escolas.
Nossas escolas não estão preparando pessoas jovens para os altos escalões e as obrigações da cidadania em uma república democrática.
Nossas instituições políticas não podem prosperar, podem até nem mesmo sobreviver, se não produzirmos um maior número de cidadãos pensantes, de onde algum estadista possa eventualmente surgir.
Nós somos, sem dúvida, uma nação em risco, e nada aquém de uma reforma radical em nossas escolas pode nos salvar do desastre.
Qualquer que seja o preço que devamos pagar em dinheiro e esforço para fazer isto, o preço que pagaremos por não ter feito será muito maior.

Pois bem. Eu, aqui onde estou, vivo no meio do povão. Minha vizinhança, em grande parte, simplesmente não tem condições de participar da vida política do seu país, a não ser como massa de manobra - aceitando, e até procurando, um cabresto em troca de privilégios.

A formação das pessoas é insuficiente para obterem a condição de igualdade que lhes permita exercerem a cidadania plena. Não é à toa que pareça tão natural serem tratadas como gado. Não se pode fugir da realidade: essa situação lhes faz justiça, na circunstância.

Mas se pode trabalhar a realidade. E a oportunidade está caindo de madura.

A criançada da minha vizinhança cresce reproduzindo as limitações de seus pais, e ela, sabemos, é representativa de uma multidão. Daqui a dez anos estará votando em algum populista oportunista - também ele conduzido, por incapaz; mero títere de estrategistas que não foram eleitos, usurpadores do poder republicano -, e produzindo outra geração inviável.

É necessário, nesses dez anos, um esforço concentrado para se romper essa continuidade viciosa. Como disse o comentarista acima, é preciso pagar o preço que for preciso.
Uma geração inteira, bem formada, é o nosso salto qualitativo inadiável.

Vamos nos engajar no Brasil que pode mais? Vamos exigir e dar sustentação a um projeto mobilizador?



2 comentários:

Saramar disse...

Estou lendo este seu texto há dois dias.
Ele me fez lembrar "A República" de Platão e fui lá para ler novamente a relação entre governo e conhecimento.
Ao mesmo tempo, tenho pensado muito em educação no Brasil.
Tenho pensado nestes termos: por quanto tempo mais os governantes brasileiros irão continuarão investindo na ignorância? Quanto tempo mais eles pensam que tal conduta irá funcionar neste mundo da informação?
Então eu me lembrei que no Brasil há pessoas que nunca viram uma lâmpada e que governo nenhum se preocupa com isso.
E pessoas que vêm lá do primeiro mundo visitar os miseráveis acham maravilhosa esta forma de vida de alguns, desprovida de nada e a defendem e investem na continuação da miséria.
O que fazer?

P.S. Ainda vou continuar estudando para comentar o assunto deste post.

Ari disse...

Saramar, temos um precedente quase inacreditável, no campo econômico. Quem já tem alguns anos a mais de janela pode avaliar o salto qualitativo decorrente do Plano Real. Estávamos num círculo vicioso que já perdurava por décadas e que foi rompido com maestria. Temos capacidade. Realmente, podemos mais, e a rigor, nada nos impedirá de realizarmops nossa potencialidade: mas podem nos atrasar...
E quem pode nos atrasar são os que atuam contra os interesses do povo brasileiro, tanto externamente quanto internamente...
Quanto a esses últimos, não escaparão do julgamento: cegueira ou traição?