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10 de mai. de 2012

Igualdade de gênero


(Reprodução de post do blog do Ten Cel Rodrigues do Carmo)

Nos últimos tempos o tema mais vivo deste blog tem sido o sexo.

Resumindo o que é possível resumir, uns (entre os quais eu) dizem que homens e mulheres são naturalmente diferentes, que encaram o sexo de forma diferente, que têm preferências diferentes (sexuais e não só), abordagens diferentes, e que tudo isso é natural; isto é, resulta da sua própria natureza. Outros garantem que essa diferença é exclusivamente cultural e que o progresso, ou a evolução (note-se a valoração positiva das palavras) estão não só a libertar a mulher, o que é verdade, como a fazer com que as suas preferências e escolhas se tornem indistinguíveis das dos homens, o que é mentira.

Esta curiosa teoria a que chamarei "progressista", assenta em dois pilares fundamentais:

-O conceito da Tábua Rasa, ideia antiga, mas retomada nos meios da extrema-esquerda, de que tudo é construção cultural e que as predisposições genéticas são quase irrelevantes.

-A teorização da chamada Escola de Frankfurt.
Esta escola de pensamento, que recolheu a herança de marxistas como Gramsci e Lucaks, agregou intelectuais marxistas de renome como Marcuse, Adorno, Walter Benjamin, etc, e focou-se especialmente na cultura.

Os marxistas verificavam que o proletariado não se tinha revoltado na Europa, como Marx tinha predito, e a razão só podia estar nos inadequados valores culturais. Tal como Marx, chamavam a este conjunto de valores "ideologia", e consideravam-nos deliberadamente construídos para perpetuar (hegemonia cultural) a exploração capitalista. É famosa a questão retórica que Lucaks se colocou e que exprime bem esta ideia: “quem é que nos salva da cultura ocidental?

A resposta foi dada pela Escola de Frankfurt: criticar (Teoria Crítica), questionar, desconstruir e derrubar as instituições culturais do ocidente que estavam no caminho da revolução comunista, nomeadamente a família, o papel das mulheres e dos homens em sociedade, etc. 
Não é por acaso que Herbert Marcuse, que se tinha apoderado do conceito freudiano de “repressão sexual” para demonstrar o controle do capital sobre as massas, por via da "família burguesa", se tornou um dos incensados ícones dos movimentos pela paz e pelo "amor livre", que floresceram nos idos de 60, nos EUA e que culminaram em Woodstock.

O motor desta desconstrução estava, como não podia deixar de ser, numa remasterização do conceito da luta de classes. Uma vez que a classe operária não estava a assumir a sua missão histórica e, na verdade, parecia razoavelmente acomodada ao capitalismo, havia que gerar novos indignados capazes de servir de rastilho à revolução. Este processo continua, hoje, a ser o modus faciendi da esquerda moderna, a chamada New Left. Os novos "explorados"  e "oprimidos" eram as minorias raciais, os povos do 3º mundo, os homossexuais, os muçulmanos, enfim, qualquer grupo humano que pudesse e possa ser credor de um capital de injustiça, real ou imaginário. E as mulheres, claro, que tinham vastas razões para não estarem satisfeitas. Marcuse chegou a escrever que se as mulheres se rebelassem, o fato de serem mais de 50% da população asseguraria a destruição do capitalismo.

E foi assim que surgiu um novo tipo de feminismo, já bem afastado do feminismo anterior, assente na reivindicação de direitos políticos. Este novo feminismo, instrumentalizando a luta das mulheres pelos seus direitos, apostava na eliminação de todas as diferenças, e daí a adaptação natural e quase automática da "tábua rasa".

Assim, para os "progressistas", todas as diferenças são construções sociais que devem ser combatidas, porque fazem parte da hegemonia cultural capitalista.

Não existem raças, não existem homens, não existem mulheres, apenas pessoas iguais, sendo que as diferenças são apenas papéis impostos pelas imposições burguesas.

Nada é inato, tudo é construído e tudo pode, e deve, ser desconstruído.

Marcuse chegou até a escrever que ser verdadeiramente tolerante implicava ser intolerante com toda e qualquer narrativa que salientasse diferenças, entre culturas, entre sexos, entre etnias, entre pessoas.

Esta ideologia, hoje conhecida por "politicamente correto", é, como vimos, basicamente marxismo cultural. E, como Marcuse preconizou, qualquer pessoa que realce diferenças inatas, é, de imediato, quase por reação pavloviana,  classificado como xenófobo, racista, machista, fascista, retrógrado, etc.

Se bem que alguns considerem isto "doutrina", é importante conhecer esta base, porque muita gente, sem ter a mínima ideia da razão pela qual alimenta determinadas crenças, defende com unhas e dentes, como cristãos novos, os conceitos que lhe foram sendo sutilmente implantados por décadas de propaganda e guerra cultural.

O debate que tem estado a acontecer neste blog situa-se nesta clivagem e é,  também por isso, interessante.

Voltando à realidade, se olharmos à nossa volta, facilmente nos apercebemos que as pessoas não são iguais, nem querem a mesma coisa. As mulheres têm preferências e gostos diferentes dos dos homens, há pessoas pretas, amarelas, brancas, etc, há quem tenha talento para umas coisas e outros não, há culturas piores do que outras, etc. Ou seja, a realidade questiona em cada momento, de forma ostensiva, a doutrina do marxismo cultural.

A resposta dos seus defensores, quando forçados a reconhecer as diferenças, é a de que é preciso avançar mais, é preciso "evoluir", "progredir",  erradicar a velha cultura, etc. Só assim se atingirá a perfeita igualdade.

Antes de prosseguir, um pequeno disclaimer: considero que as mulheres, em quase todas as culturas, foram tratadas invariavelmente como objetos e seres de 2ª categoria. As civilizações nascidas no Crescente Fértil (cristianismo, islamismo e judaísmo), que são as que conheço melhor, sempre olharam para a mulher como uma encarnação do demônio, como uma serpente, como um ser irracional, enfim, como um perigo para a ordem racional, masculina, como tacitamente  se admitia.

E, uma vez que a mulher é, regra geral, fisicamente mais fraca e produz menos testosterona, não foi (nem é) difícil subjugá-la, como prova a História e como se demonstra atualmente nos países muçulmanos, na China, etc.

Há também uma característica feminina que torna este processo mais fácil: de um modo geral, as mulheres tendem a acomodar-se a situações que, muito provavelmente, suscitariam a revolta violenta dos homens. E a assumir como suas e virtuosas, perpetuando-as, as mais estranhas restrições. Na China, deformavam os pés, para acomodá-los aos ditames da moda, noutras latitudes deformam o pescoço esticando-o com argolas sucessivas, excisam os genitais, aceitam andar pelo mundo com burcas, sofrem na carne para adaptar as formas do seu corpo a ideais andróginos, etc. Há aqui certamente um campo de estudo.

O feminismo teve e tem muitos defeitos, principalmente desde que foi sequestrado pelo marxismo cultural, mas obteve essa fantástica vitória de, nas sociedades ocidentais, libertar a mulher da subalternidade e de algumas dessas restrições. As nossas mulheres podem hoje, fazer as suas escolhas em razoável liberdade e segurança,  e isso não foi concedido, mas conquistado. E dificilmente voltará a ser perdido, porque os homens da nossa civilização aprenderam a respeitar as diferenças e a tirar o melhor partido delas.

O problema, para a visão "progressista",  é que as mulheres, em completa liberdade, não escolhem ser homens, isto é, não escolhem as coisas que as feministas antigas consideravam ser natural que escolhessem.

Ainda hoje, as mentalidades "progressistas", entendem que uma mulher verdadeiramente livre é aquela que faz as coisas da mesma forma que o homem, naquilo que é uma reafirmação disfarçada de superioridade e paternalismo.

No princípio, as mulheres empenhadas faziam essas escolhas ostensivamente masculinas. Usar calças, fumar, andar de tronco nu, não usar soutien, tentar a promiscuidade sexual, não se depilar, etc. Estas escolhas de combate, partiam do principio que os homens sim, eram verdadeiramente livres e que as mulheres, se também o queriam ser, tinham de fazer as mesmas escolhas.

O resultado foi que muitas mulheres pura e simplesmente, se forçavam a macaquear os homens, mesmo que intimamente não gostassem.

Todavia, com a paulatina consciência de si mesmas, as mulheres passaram a fazer as suas próprias escolhas, escolhas cada vez mais femininas, cada vez mais próximas dos chamados papéis culturais burgueses.

Um paradoxo!

vídeo deste link é fabuloso. Trata-se de um documentário, feito por um jornalista isento e que parte para o problema de forma completamente aberta.

O problema é o tal paradoxo: na Noruega, país considerado no topo da igualdade de gênero, as escolhas profissionais demonstram a mais profunda desigualdade. Maior, muito maior do que em países onde a mulher ainda luta por direitos iguais.

Na Noruega, elas tendem a escolher profissões de interação social, eles escolhem profissões técnicas. Face aos dados e às imagens, é impossível que alguém intelectualmente honesto, não questione determinadas "certezas".

A explicação é, para os investigadores referidos no documentário, autoridades de topo nos respectivos campos de estudo,  (um deles o professor Simon Cohen, de Cambridge-Trinity College- investigador na área do autismo e irmão do famoso ator Sacha Baron Cohen), que as mulheres têm, nesse país, liberdade para escolherem ser o que são e portanto escolhem culturalmente aquilo que a sua natureza lhes aponta. E o mesmo se verifica com os homens, embora isso não seja novidade.

Os investigadores verificam empiricamente que o gênero é um fator nas escolhas, mesmo em idades de tal modo precoces que a contaminação cultural é impossível.

Os chamados "investigadores sociais", dois dos quais pertencentes à nomenclatura cultural marxista, são entrevistados e, confrontados com as evidências, recusam-nas liminarmente.

Uma delas (Cathrine Egeland), diz mesmo que não está interessada em estudar as diferenças e, quando o jornalista lhe pergunta quais os estudos em que sustenta as suas convicções, gagueja (literalmente, vale a pena ver o vídeo) e acaba por dizer que tem apenas uma base teórica (refere-se obviamente às obras de Adorno e de outros intelectuais da escola de Frankfurt) .

Enfim, o vídeo explica as coisas bem melhor do que eu, e quem se resolver a visualizá-lo, verá que não só é muito interessante e agradável de ver, como clarifica o debate.

No fundo confirma aquilo que venho dizendo, isto é, que as diferenças são mais inatas que culturais, o que entra em choque direto com a visão "progressista" do mundo, segundo a qual  todos os indivíduos são exatamente iguais à altura do nascimento em termos de potencial de aptidões e preferências e que, evoluindo em ambientes exatamente iguais, as escolhas livres dos indivíduos conduziriam à paridade total independentemente do gênero, raça ou orientação sexual.

Uma vez que isso efetivamente NÃO se verifica, a conclusão dos marxistas culturais não é a de que a sua tese está errada, mas a de que os indivíduos não são realmente livres nas suas escolhas por estarem limitados por preconceitos. Uma vez que crianças recém-nascidas não podem ser acusadas de ter preconceitos, esta tese é extremamente difícil  de sustentar, pelo que ao defendê-la, os  "progressistas" estão claramente a firmar-se num preconceito. O preconceito de que somos todos iguais e que a natureza é aquilo que quisermos dizer que é.



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