_________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________

16 de mar. de 2010

Depoimento

De Claudia Cadelo, sobre "Coco" ( Guillermo Fariñas) :

"Hebert, Lía e eu éramos a imagem viva do desamparo. Havíamos saido de Havana na meia noite passada e deambulávamos - finalmente - por Santa Clara, procurando pelo paradeiro incerto de Ciro e Claudio, que haviam sido presos em Placetas.

Só o havia visto uma vez de passagem. Não podia imaginar que meses mais tarde estaria no patamar da sua porta às quatro da manhã, chamando-lhe com todas as forças. Sua mãe abriu:
-Bom dia, sou Claudia, procuro Farinas. Venho de Havana, meu marido está preso na Villa daqui acredito.

Coco desceu, nos deu café, emprestou-me o telefone, contou-nos a sua vida, explicou-nos como chegar na delegacia e me brindou com toda sua hospitalidade. Quisera eu ter a grandeza de alma que ele tem para abrir a porta para um deconhecido - com esse bom humor - de madrugada!

Convenceu-me a esperar o amanhecer e quando quase me ia, disse:
-Não gosto da ideia de deixá-los ir sozinhos à delegacia, vou me vestir.

Descobri que caminhava pela cidade com uma estrela: todos o saudavam, o conheciam, perguntavam-lhe por alguém. Desde que entrei na sua casa tive a absoluta certeza de que com ele nada mal me aconteceria, e nunca me falhou.

Hoje falamos por telefone. Ou melhor ele falou, porque eu não deixo de chorar quando me diz que doem os olhos e os rins, que fica dormente todo momento e que as pressões estão chegando. Solto o telefone e passo para Ciro, envergonho-me de não ser capaz de manter um diálogo coerente.

Não sei mais o que dizer... Não quero que morra."

Nenhum comentário: